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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Leitor Como Intérprete (Parte I)

A primeira razão por que precisamos aprender como interpretar é que, quer deseje, quer não, todo leitor é ao mesmo tempo um intérprete. ou seja a maioria de nós toma por certo que, enquanto lemos, também entendemos o que lemos. Tendemos, também, a pensar que nosso entendimento é a mesma coisa que a intenção do Espírito Santo ou do autor humano. Apesar disso, invariavelmente levamos para o texto tudo quanto somos, com toda nossa experiência, cultura e entendimento prévio de palavras e idéias. Às vezes, aquilo que levamos para o texto, sem o fazer deliberadamente, nos desencaminha ou nos leva a atribuir ao texto idéias que lhe são estranhas.

Desta maneira, quando uma pessoa em nossa cultura ouve a palavra "cruz", séculos de arte e simbolismo cristãos levam a maioria das pessoas a pensar automaticamente numa cruz romana (T) embora haja pouca probabilidade de que aquele era o formato da Cruz de Jesus, que provavelmente tinha a forma de um "T". A maioria dos protestantes, e dos católicos também, quando lê textos acerca da igreja em adoração, automaticamente forma um quadro de pessoas sentadas numa construção com bancos, muito semelhante às deles. Quando Paulo diz: “Nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14), as pessoas nas culturas de idiomas europeus tendem a pensar que "a carne" significa “o corpo" e, portanto, que Paulo está falando nos "apetites físicos." Mas a palavra "carne," conforme Paulo a emprega, raras vezes se refere ao corpo — e neste texto quase certamente não tem esse sentido — mas, sim, a uma enfermidade espiritual, uma doença de existência espiritual às vezes chamada "a natureza pecaminosa." O leitor, portanto, sem o fazer deliberadamente, está interpretando o que lê, e, infelizmente, por demais freqüentemente interpreta incorretamente.

Isto nos leva a notar ainda mais arte o leitor de uma Bíblia em idioma latino já está envolvido na interpretação. A tradução, pois, é em si mesma uma forma (necessária) de interpretação. Sua Bíblia, seja qual for a tradução que você empregar, que para você é o ponto de partida, é, na realidade, o resultado final de muito trabalho erudito. Os tradutores são regularmente conclamados a fazer escolhas quanto aos significados, e as escolhas deles irão afetar como você entende.

Os bons tradutores, portanto, levam em consideração as diferenças entre nossos idiomas. Esta, porém, não é uma tarefa fácil. Em Romanos 13.14, por exemplo, devemos traduzir "carne" porque esta é a palavra que Paulo empregou, e depois deixar o intérprete contar-nos que "carne" aqui não significa "corpo"? Ou devemos "ajudar" o leitor e traduzir "natureza pecaminosa" porque é isto que Paulo realmente quer dizer? Retomaremos este assunto com maiores detalhes no capítulo seguinte. Por enquanto, basta indicar que o próprio fato da tradução já envolveu a pessoa na tarefa da interpretação.

FONTE:

[Nas próximas semanas, Deus permitindo, iremos reproduzir nesta seção mais princípios da interpretação dos senhores Fee e Stuart do seu livro “Entendes o Que Lês?”]

Veja a segunda parte deste estudo "O Leitor Como Intérprete Parte 2"

Copyright © 1984 Edições Vida Nova. Todos os direitos reservados.
Reproduzido com a devida autorização.

O livro de Gordon D. Fee e Douglas Stuart do qual este texto foi extraído, "Entendes o que Lês?", pode ser encomendado da Edições Vida Nova
selecionando a capa do livro ao lado:

O Leitor Como Intérprete (Parte II)

A necessidade de interpretar também é achada por meio de notar aquilo que acontece em nosso redor o tempo todo. Uma simples olhada para a igreja contemporânea, por exemplo, torna abundantemente claro que nem todos os "significados claros" são igualmente claros para todos. É de interesse mais do que passageiro que a maioria daqueles na igreja de hoje que argumentam que as mulheres devem guardar silêncio na igreja, com base em 1 Coríntios 14.34-35, negam, ao mesmo tempo, a validez do falar em línguas e da profecia, o próprio contexto em que a passagem do "silêncio" ocorre. E aqueles que afirmam que as mulheres, e não somente os homens, devem orar e profetizar, com base em 1 Coríntios 11.2-16, freqüentemente negam que devem fazê-lo com a cabeça coberta. Para alguns, a Bíblia "ensina claramente" o batismo dos crentes mediante a imersão; outros acreditam que podem defender o batismo de crianças por meio da Bíblia. Tanto a "segurança eterna" quanto a possibilidade de "perder a salvação" são pregadas na igreja, mas nunca pela mesma pessoa! As duas posições, no entanto, são afirmados como sendo o significado claro dos textos bíblicos. Até mesmo os dois autores deste livro têm certos desacordos entre si quanto ao significado "claro" de certos textos. Mesmo assim, todos nós estamos lendo a mesma Bíblia e todos estamos procurando ser obedientes àquilo que o texto "claramente" significa.

Além destas diferenças reconhecíveis entre "crentes bíblicos," há, também, todos os tipos de coisas estranhas em andamento. Usualmente podemos reconhecer as seitas, por exemplo, porque têm uma autoridade além da Bíblia. Mas nem todas elas a têm; em todos os casos, porém, torcem a verdade pelo meio que selecionam textos da própria Bíblia. Toda heresia ou prática que se possa imaginar, desde o arianismo (a negação da divindade de Cristo), das Testemunhas de Jeová e de "O Caminho", até o batismo em prol dos mortos entre os mórmons, até o manipular de serpentes entre as seitas apalacianas, alega ser "apoiada" por algum texto.

Até mesmo entre pessoas mais teologicamente ortodoxas, no entanto, muitas idéias estranhas conseguem ganhar aceitação em vários círculos. Por exemplo, uma das modas atuais entre os protestantes norte-americanos, especialmente os carismáticos, é o assim-chamado Evangelho da riqueza e da saúde. As "boas novas" são que a vontade de Deus para você é a prosperidade financeira e material! Um dos defensores deste "evangelho" começa seu livro ao argumentar em prol do "sentido claro" da Escritura e ao alegar que coloca a Palavra de Deus em posição de absoluta primazia no decurso do seu estudo. Diz que não conta aquilo que pensamos que ela diz, mas, sim, o que ela realmente diz. O "significado claro" é o que ele quer. Começamos, porém, a ter nossas dúvidas acerca de qual é realmente o "significado claro" quando a prosperidade financeira é argumentada como sendo a vontade de Deus a partir de um texto tal como 3 João 2: "Amados, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim, como é próspera a tua alma" — texto este que realmente não tem nada a ver com a prosperidade financeira. Outro exemplo toma o significado claro do jovem rico (Marcos 10.17-22) como sendo exatamente o oposto daquilo "que realmente diz," e atribui a "interpretação" ao Espírito Santo. Podemos talvez questionar com razão se o significado claro realmente está sendo procurado; talvez o significado claro seja simplesmente aquilo que semelhante escritor quer que o texto signifique a fim de apoiar suas idéias prediletas.

Dada toda esta diversidade, tanto dentro quanto fora da igreja, e todas as diferenças até mesmo entre os estudiosos, que alegadamente conhecem "as regras," não é de se maravilhar que alguns argumentam em prol de nenhuma interpretação, em prol da simples leitura. Esta, porém, é uma opção falsa, conforme vimos. O antídoto à má interpretação não é simplesmente nenhuma interpretação, mas, sim, a boa interpretação, baseada nas diretrizes do bom senso.

Os autores deste livro não sofrem de ilusões de que, ao ler e seguir nossas diretrizes, todos finalmente concordarão quanto ao "significado claro", nosso significado! O que esperamos realizar é aumentar a sensibilidade do leitor a problemas específicos inerentes em cada gênero, informá-lo por que existem opções diferentes e como fazer julgamentos de bom-senso, e especialmente ter a capacidade de discernir entre interpretações boas e as não tão boas — e de saber o que as faz assim.

[Nas próximas semanas, Deus permitindo, iremos reproduzir nesta seção mais princípios da interpretação dos senhores Fee e Stuart do seu livro “Entendes o Que Lês?”]

FONTE:

Copyright © 1984 Edições Vida Nova. Todos os direitos reservados.
Reproduzido com a devida autorização.

O livro de Gordon D. Fee e Douglas Stuart do qual este texto foi extraído, "Entendes o que Lês?", pode ser encomendado da Edições Vida Nova
selecionando a capa do livro ao lado:



1 Samuel 28 – Saul se comunicou com o espírito de Samuel?PARTE 1

As Evidências

Já houve bastante polêmica acerca dos eventos registrados em 1 Samuel 28:7-20. Nesta passagem, o primeiro rei de Israel, Saul, já nos últimos dias da sua vida, pede para uma necromante invocar o espírito de Samuel. Saul quer pedir conselhos de Samuel apesar de Samuel, ainda com vida, ter se recusado a dar mais conselhos. Aparentemente, Samuel aparece e se comunica com Saul, confirmando o que já havia profetizado, que Deus virou contra ele e que deu o reinado dele a outro – Davi.

A polêmica se levantou na interpretação desta passagem em relação à possível comunicação com os mortos. Alguns acreditam que Saul de fato comunicou-se com Samuel. Outros acreditam que não. Dos que acreditam que Saul não se comunicou com Samuel, há quem acredite que Saul foi enganado pela necromante. Outros afirmam que foi um espírito enganador, talvez até um demônio que se comunicou com Saul. Evidentemente, uma das preocupações dos intérpretes é com a possibilidade de reconhecer que a comunicação com os mortos é possível.

Apresentaremos os indícios que nos levam a crer que de fato Saul falou com o espírito do profeta morto Samuel. Em seguida apresentaremos evidências para confirmar esta conclusão. Finalmente, examinaremos a questão das implicações desta interpretação.

As Evidências

a. A evidência da Palavra
A evidência mais convincente de que Saul de fato se comunicou com o profeta morto Samuel é o testemunho da própria Bíblia. Veremos esta evidência com uma análise do próprio texto da passagem. Às vezes os intérpretes esquecem de um dos princípios básicos da interpretação – o exame detalhado do texto. Como resultado, alguns começam a atribuir, sem fundamento, palavras ou conceitos ao texto que jamais existiam na Palavra. Na nossa análise da passagem veremos que um exame objetivo do texto, mesmo em tradução, revelará que de fato Saul se comunicou com o espírito do falecido Samuel.

A passagem começa com Saul movido pelo medo à procura da médium de En-Dor (1 Sam 28:5-10). Os filisteus juntaram um grande exército contra Israel e, no início da passagem em questão Saul começa a perceber que ele vai perder a guerra. Ele pede para a médium ou necromante de En-Dor chamar Samuel (v.11), o profeta já morto (v.3). Samuel havia o guiado antes, mas o deixou depois que ele desobedeceu o Senhor (1 Sam 15:26).

Numa sessão de necromancia digna de um filme de terror, Saul se junta com a mulher quando ela tenta trazer de volta para esta vida o espírito do falecido Samuel. Assustada com a aparição do ser que ela invocou, a mulher grita em alta voz (v. 12).

Quando a mulher descreve o homem que ela vê, Saul entende que é Samuel (vv.12-14). Alguns intérpretes se detêm muito com a percepção de Saul, como se o resto do relato fosse apenas descrever o que Saul entendeu. No entanto, o relato segue no formato do resto do livro de Samuel, dando a entender que o que está sendo contado de fato ocorreu.

Em nenhum momento nos versículos posteriores há qualquer indício de que aquilo que é relatado seja fruto apenas da imaginação de Saul ou que a mulher o enganou. Não há palavras como “entendeu” ou “imaginou” descrevendo o que aconteceu. Em v. 15, por exemplo, quando a passagem relata as primeiras palavras do ser que apareceu, o versículo não diz “Aquele que Saul pensou ser Samuel disse...” ou “Aquele que Saul entendeu ser Samuel falou ...”. A passagem diz “Samuel disse a Saul...”. Estas palavras são as mesmas nas traduções de Almeida Atualizada e Corrigida e na Bíblia de Jerusalém. A NVI apenas muda para “Samuel perguntou a Saul”. Ou seja, as principais traduções em português dão a entender que aquilo que é relatado se baseia em fatos verídicos. Portanto não há evidências no texto que apóiam a interpretação de que Saul se confundiu ou que a necromante o enganou.

Logo em v.12 vemos o primeiro indício de que aquele que apareceu foi de fato Samuel. v.12 - “Vendo a mulher a Samuel, gritou em alta voz...” Lendo a passagem em português fica evidente que a mulher viu o próprio Samuel. A passagem não diz “A mulher disse que era Samuel” nem “A mulher fez de conta que era Samuel”, mas “Vendo a mulher a Samuel...”. O texto da própria Bíblia dá a entender que o que a mulher viu foi Samuel. Isso fica claro no português da Almeida Revista e Atualizada. Mas, para quem tiver dúvidas ainda, apresentamos em seguida o texto no original em hebraico e na tradução para grego da Septuaginta com interlinear em português:



Em seguida, todos os versículos que tratam do ser que apareceu o chamam de Samuel: v. 15 - “Samuel disse a Saul...”
v.16 - “Então disse Samuel...”
v. 20 - “... Saul ... foi tomado por grande medo por causa das palavras de Samuel...”

Vejamos o texto do início de 1 Samuel 28:15 no original em hebraico e na tradução para grego da Septuaginta com interlinear em português:



Embora seja difícil para alguns aceitarem, é preciso perguntar, quem é que a Bíblia diz que a mulher viu? [Veja v.12.] Quem é que a Bíblia diz que falou com Saul? [Veja vv.s 15 e 16.] A Bíblia diz que Saul foi tomado por grande medo por causa das palavras de quem? [Veja v. 20.] A resposta a todas estas perguntas, segundo a própria Bíblia é Samuel. De acordo com a própria Bíblia a mulher viu Samuel. Segundo a Bíblia, Samuel falou com Saul e foram as palavras de Samuel que Saul ouviu e temeu. Se a Bíblia chama este ser de Samuel, quem tem autoridade superior para negar esta afirmação?

Alguns alegam que aquilo que apareceu foi um espírito maligno ou enganador. Mas, nas Sagradas Escrituras, quando um profeta falso ou espírito maligno ou enganador está atuando, é revelado eventualmente quem aquele espírito representava (Juizes 9:23; 1 Reis 13:18; 22:22-23; 2 Crôn. 18:21-22). Observamos que no caso do evento relatado em 1 Samuel 28 a Bíblia nunca chama aquele que apareceu de um “espírito enganador” ou um “demônio mentiroso”. De fato, a Bíblia sempre chama aquele que apareceu de Samuel.

Podemos debater se seria justo ou lógico Deus permitir Samuel voltar para falar com Saul. Mas, no final, temos que decidir se vamos basear nossas conclusões no nosso raciocínio e lógica, ou naquilo que a própria Bíblia diz. Neste caso, a Bíblia diz que quem apareceu e quem falou foi Samuel. Quem se sente apto para falar contra o que a própria Bíblia diz neste caso?

b. A evidência do testemunho do ser que apareceu.
O ser que apareceu a Saul nunca falou nada contra a Palavra do Senhor. Pelo contrário, o ser simplesmente confirmou tudo que Deus havia profetizado a Saul. Este ser dificilmente poderia ser um espírito enganador, pois só confirmou tudo que a Palavra de Deus nos dissera até aquele ponto. Observamos ainda que o ser que apareceu sabia coisas que eram do conhecimento de Saul e Samuel. Se essas coisas eram sigilosas ou não, ninguém sabe ou pode afirmar. Mas é claro que o conhecimento deste ser é compatível com o que iríamos esperar de Samuel.

c. A evidência da profecia do ser que apareceu.
O ser que apareceu a Saul profetizou que Israel seria derrotado pelos filisteus, e que Saul e seus filhos iriam morrer logo em seguida. Esta profecia acaba se realizando. Em 1 Sam 31 lemos sobre a derrota de Israel pelos filisteus e a morte de Saul e seus filhos. Assim entendemos que este ser sabia não somente relatar coisas do passado de Saul, mas também profetizou com precisão sobre seu futuro.

Alguns pensam que não foi Samuel que falou porque parece que ele errou na sua profecia. O pensamento destas pessoas é de que quando o ser disse “amanhã ... estareis comigo” (v.19) ele errou. Parece que demorou mais de um dia para Saul e seus filhos serem mortos.

Primeiro, é preciso saber que a palavra “amanhã” no grego da LXX é aurion que pode ser literalmente “no dia seguinte” (Num 16:16; At. 23:20). Mas, esta palavra pode também significar “logo” (Mat 6:30; 1 Cor 15:32) ou algum tempo ainda indefinido do futuro (Gen 30:33; Deut 6:20). O mesmo se vê no hebraico, que usa a palavra machar, que pode significar literalmente “amanhã” (Num, 16:16), ou um tempo ainda indefinido do futuro (Gen 30:33; Deut. 6:20). Sabendo isto, uma interpretação possível do que o ser disse é, como traduzido por várias versões, “amanhã tu e teus filhos estareis comigo...”. Porém, uma outra tradução ainda perfeitamente aceitável do mesmo versículo seria “logo tu e teus filhos estareis comigo”. Dentro do contexto, tanto no grego como no hebraico, uma tradução que dá a entender que Saul e seus filhos morreriam “em breve” é totalmente aceitável.

Segundo, é importante lembrar que o que acontece logo em seguida (caps. 29-30) não aconteceu necessariamente em ordem cronológica após os eventos de Cap. 28. 1 Crôn. 10 fala da morte de Saul (que ocorre em 1 Sam 31). Mais adiante o mesmo livro, 1 Crôn. 12:19-20, fala dos eventos que ocorreram antes da morte de Saul, em 1 Sam 29. Isto não significa que as duas histórias estão em contradição, mas simplesmente que os historiadores não se sentiram obrigados a relatar as coisas precisamente em uma seqüência cronológica.

Um exemplo desta prática se vê na história da fuga da família de Jesus para o Egito. Em Mat 2:15 lemos sobre Herodes morrendo. Em v. 16, imediatamente em seguida, ele está vivo ainda. Na primeira seqüência o foco da história é a família de Jesus. Na segunda seqüência, o foco é Herodes e sua reação. Embora no relato de Mateus uma história segue outra, as duas histórias tratam de eventos que aconteceram ao mesmo tempo, embora em lugares distintos. É bem provável que este é o caso das histórias de 1 Sam 28 e 29. Uma história focaliza a vida de Saul, outra a vida de Davi, mas não necessariamente em ordem cronológica.

Uma seqüência que demonstra a mesma técnica pode ser encontrada no Evangelho de Lucas 3:19-20, onde Lucas conta sobre Herodes colocando João Batista na prisão. Mas, em seguida, Lucas relata o batismo de Jesus, que, segundo os outros Evangelhos, foi realizado por João Batista antes da sua prisão (Mt 3:13; Mc 1:9). No Evangelho de Marcos 6:17-29 lemos sobre a prisão de João bastante depois que realmente aconteceu, quando Herodes começa a ouvir falar de Jesus e teme que ele seja João ressuscitado. Em ambos os casos, um relato histórico acontece ou antes de outros eventos que seguiu, ou muito tempo depois. Isto não significa que os Evangelhos estão confusos, apenas que os autores nem sempre relataram um evento em sua seqüência cronológica.

Concluímos, portanto que o que este ser falou a Saul acabou acontecendo como profetizado. Isto também seria compatível com o papel de Samuel como profeta. Isto também seria conhecimento privilegiado e que apenas alguém com poderes sobrenaturais poderia profetizar.

Outra alegação de que a profecia do ser que falou a Saul não foi cumprida é baseada no fato de que um dos filhos de Saul, Is-Bosete não foi morto (2 Sam 2:10). A única coisa que temos a dizer sobre isto é que o ser que falou a Saul não disse que todos seus filhos iriam morrer. Ele apenas falou “tu e teus filhos” (1 Sam 28:19). Na verdade, todos os filhos de Saul que estavam lutando com ele naqueles dias morreram. Seria a respeito destes filhos que o ser estaria se referindo. Embora a passagem nem confirme nem contrarie, é bem possível que os outros filhos de Saul que morreram com ele estavam junto ao seu pai quando ele recebeu aquelas palavras de Samuel. Se este foi o caso, que seria perfeitamente natural, então Samuel estaria se referindo aos filhos que acompanharam Saul. Exatamente como profetizado, todos eles morreram.

d. A evidência de outras traduções e textos antigos
A frase de 1 Sam 28:15(a) transmite o mesmo sentido no Latim: “dixit autem Samuhel ad Saul quare inquietasti me ut suscitarer” Disse, pois, Samuel a Saul: Por que me inquietaste para subir/suscitar…?

Na Septuaginta (LXX), a tradução em grego do AT, o texto que resume a condenação de Saul em 1 Crôn. 10:13 diz “Por isso Saul morreu pelas suas transgressões cometidas contra o Senhor, contra a Palavra do Senhor, que ele não guardara, porque interrogara e consultara uma necromante, e Samuel o profeta o respondeu. ” (kai apekrinato autw Samouhl o profhthv)

O livro apócrifo Eclesiástico, incluído nas traduções Católicas, afirma “Depois disto, Samuel morreu e apareceu ao rei, predisse-lhe o fim da sua vida, e levantou a sua voz de debaixo da terra, profetizando, para destruir a impiedade do povo.” (Eclesiástico 46:23) (conhecido também como Sirach ou Sabedoria de Sirach 46:20)

e. Os dicionários de grego e hebraico mais atuais confirmam a comunicação com Samuel.
“… uma ocorrência da necromancia se menciona na história da visita que Saul fez à médium em En-Dor. A história da médium em En-Dor que fez subir o espírito de Samuel não lança dúvidas sobre a realidade daquilo que aconteceu, mas claramente condena a aventura.” (Colin Brown, artigo “Magia, Feitiçaria, Magos” em Brown, Colin, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Edições Vida Nova, 1978, tradução Gordon Chown, Vol. III, p. 110.)

“ A palavra 'ôb refere-se claramente àqueles que consultavam espíritos, visto que 1 Samuel 28 descreve uma destas pessoas em ação. A famosa 'pitonisa de En-Dor era uma 'ôb. Embora Saul tivesse proibido 'feiticeiras' e 'mágicos' ele consultou um deles. Disfarçando-se, pediu que a 'médium' trouxesse Samuel dentre os mortos. Ela foi bem sucedida e, embora ele tenha-se queixado de ter sido perturbado, anunciou a Saul as más notícias…" (Robert L. Alden Artigo bAa ('ôb) “alguém que tem um espírito familiar” em Harris, R. Laird, Gleason L. Archer Jr. e Bruck K. Waltke, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Edições Vida Nova, 1998, p. 24. Veja também Schökel, Luis Alonso Dicionário Bíblico Hebraico-Português São Paulo: Edições Paulus, 1991, p. 32.)

Embora nenhuma obra de interpretação secundária como dicionários ou comentários possam servir para nos dar a palavra final, devemos respeitar a experiência de peritos e estudiosos e considerar com todo respeito as suas conclusões. Quando obras como estas citadas concordam com todas as outras evidências apresentadas, principalmente da própria Palavra, temos motivos o suficiente para concluir que uma interpretação está com uma base confiável.

Conclusão Preliminar

O texto de 1 Samuel 28:7-20 nos leva a concluir com segurança que o espírito do falecido profeta Samuel de fato se comunicou com Saul em En-Dor. Podemos não compreender como Deus deixaria algo desta natureza ocorrer. Podemos estranhar tudo que ocorreu no evento em si e as implicações deste evento diante das proibições da Palavra em relação à comunicação com os mortos. Mas, a nossa interpretação da Palavra de Deus tem que se basear não naquilo que nós entendemos como lógico ou aceitável para nós, mas, naquilo que a própria Palavra diz. A chave para a interpretação tem que permanecer no texto em si e não na nossa lógica ou entendimento.

Em Parte II iremos examinar as implicações deste texto. É preciso refletir sobre os eventos relatados neste texto e mandamentos e proibições no resto da Bíblia. Se uma passagem descreve algo que outras passagens condenam, será que aquilo que é descrito serve para justificar a prática? Se de fato Saul se comunicou com Samuel podemos concluir que a comunicação com os mortos é permitida? Ou, será que Deus fez algo extraordinário naquela situação por causa dos propósitos insondáveis dEle e que não cabe a nós questionar Sua soberania? Examinaremos estas e outras dúvidas em Parte II deste estudo. Que Deus guie e guarde a todos na sua busca de conhecer e seguir a Palavra e a perfeita vontade do Senhor.
Copyright © 2004 Dennis Downing e www.hermeneutica.com. Todos os direitos reservados. Este material é de uso gratuito para fins pessoais ou de uso em igreja de forma não comercial desde que incluída a referência aos direitos autorais e a citação do site www.hermeneutica.com. Para reprodução ou distribuição em sites na Internet é necessário a inclusão da referência aos direitos autorais e um link ativo para o site www.hermeneutica.com. A venda ou vinculação deste material de qualquer forma comercial é proibida sem a autorização expressa por escrito do detentor dos direitos autorais.





Parte II – As Implicações CONTINUAÇÃO DO TEXTO DE SAMUEL

Algumas Dúvidas

a. Deus permitiria um profeta como Samuel participar numa prática condenada?
Algumas pessoas raciocinam que o espírito morto de Samuel não poderia ter falado com Saul por causa da proibição por Deus de tal prática. O raciocínio destas pessoas é de que Deus não permitiria um servo tão fiel como Samuel participar numa prática condenada por Ele. Já demonstramos que Deus condena a prática da comunicação com os mortos. Concordamos que não faz sentido Deus permitir um servo dEle participar em algo condenado. Achamos, contudo, necessário lembrarmos duas coisas.

(1.) Não devemos tentar limitar Deus pelo nosso raciocínio. Deus não age sempre conforme nossas expectativas. A própria Palavra de Deus nos mostra que há muitas coisas que Deus faz cujo sentido ou explicação não nos é revelado e não cabe a nós saber (Deut 29:29). Também, a Bíblia afirma que Deus faz coisas que não temos condições de compreender (Jó 5:9; Isa 5:8,9). Por este motivo devemos ter muita cautela em tentar vincular o que vamos aceitar Deus fazendo com o que é lógico ou que segue nosso raciocínio humano. Não cabe a nós ditar a Deus o que Ele pode ou não pode fazer. Nossa mente, mesmo iluminada pela presença do Espírito Santo, é capaz de errar na sua lógica. Eis a razão pela qual Deus nos deu sua Palavra para confirmar as coisas para nós.

(2.) Há muitos exemplos na Bíblia de quando Deus permitiu uma pessoa cometer um pecado e ainda usou aquela pessoa. Isto não significa que Deus é contraditório ou que ele aprova o pecado. Isto apenas significa que Deus é soberano e mesmo quando alguém pecar, ele ainda pode realizar sua vontade.
Alguns exemplos são:


· A mentira é proibida como pecado pela Palavra de Deus (Ex. 23:1). Várias pessoas nos relatos da Bíblia mentiram, mas até suas mentiras permitiram a realização da vontade de Deus. Abraão (Gen. 20:2), Jacó (Gen. 27:18-19) e Raabe (Jos 2:1-7) mentiram, mas Deus ainda realizou sua soberana vontade através deles. Todos estes três são contados entre os antepassados de Jesus (Mat 1:1, 2, 5) e entre os colunas da fé Cristã (Heb 11: 8, 17, 21, 31). Não estamos dizendo, como alguns alegam, que Deus os abençoou por causa das suas mentiras. Estamos dizendo que Deus os abençoou apesar das suas mentiras. Nem por causa de um pecado condenado, Deus deixou de usá-los para realizar sua vontade.


· O adultério é proibido por Deus (Ex. 20:14) e a sentença era morte para ambos achados no caso de adultério (Lev 20:10). Davi cometeu adultério com Bate-Seba (2 Sam 11:2-5). O filho da sua relação morreu, mas o segundo filho que eles tiveram foi Salomão (2 Sam 12:24), um dos homens mais sábios de toda a história. Nem Davi, nem Bate-Seba foram mortos pelo seu pecado, e o filho deles veio a ser um dos maiores reis de Israel e aquele que construiu o templo do Senhor em Jerusalém.


· Davi também cometeu outro pecado quando matou o marido de Bate-Seba, Urias (2 Sam 11:14-17; 12:9). Matar era proibido por Deus (Ex. 20:13) e a sentença também era morte (Ex. 21:14). Deus não matou Davi por causa daquilo que ele fez, embora seu pecado tenha sido tão terrível como trair e matar um homem bom e justo como Urias. Apesar de tudo isto, Deus ainda continuou abençoando Davi como rei de Israel. Seu pecado teve conseqüências, mas Davi continuou sendo elogiado por Deus como “homem segundo o meu coração” (Atos 13:22), até os dias de Jesus. A Bíblia indica que, apesar dos seus graves pecados, Davi continua até hoje a ser um homem que seguia a vontade de Deus. Apesar dos seus pecados, Deus usou Davi para realizar sua vontade. Lembramos também que Davi foi um dos mais ilustres antepassados de Jesus.

Mais uma vez, não queremos insinuar que Deus aprova o pecado. Mas, é evidente que Deus pode permitir algo que vai contra a vontade dEle, ou que transgride os mandamentos dEle, e ainda realizar sua vontade através daquela pessoa ou aquela situação. Por isso devemos ter cautela em declarar que Deus jamais permitiria um servo dEle fazer esta coisa ou aquela outra. Embora a procura pela comunicação com os mortos é expressamente condenado na Palavra de Deus, isto não impede que Deus use uma situação onde houve comunicação com os mortos para realizar a vontade dEle.

b. Será que quando Saul morreu ele foi para o mesmo lugar de Samuel?
Algumas pessoas questionam a afirmação daquele que falou com Saul quando ele disse “amanhã, tu e teus filhos estareis comigo...”. Estas pessoas acham difícil acreditar que Saul, que evidentemente morreu em pecado (uma vez que, além de toda sua rebelião, ele se suicidou), poderia ir, depois de morrer, para o mesmo lugar de Samuel.

Primeiramente, precisamos observar que quando aquele que falou disse “tu e teus filhos estareis comigo” o ponto dele não era a ida de Saul para um lugar geográfico, mas para uma condição ou estado - a própria morte. Se presumimos que aquele que falou foi de fato Samuel, o que ele quis dizer não era que Saul iria para o mesmo lugar onde ele estava, mas para o mesmo estado. Ele estava usando uma expressão, um eufemismo, que significava a morte. Com uma certa freqüência a Bíblia fala da condição da morte em termos de um determinado lugar. A palavra hebraica mais comum para isso era “sheol”. As seguintes passagens se referem a um lugar “sepultura,” “cova,” quando de fato está se referindo a uma condição - a morte.

“...Chorando, descerei a meu filho até à sepultura (sheol)....” Gen 37:35
“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura (sheol) e faz subir.” 1 Sam 2:6
“Que homem há que viva e não veja a morte? Ou que livre a sua alma das garras do sepulcro (sheol)?” Sl 89:48
“A sua casa é caminho para a sepultura (sheol) e desce para as câmaras da morte.” Pr 7:27
“Porquanto dizes: ‘Fizemos aliança com a morte e com o além fizemos acordo...” Is 28:15

Todas estes versículos (e muitos outros) vinculam um lugar (sheol), com uma condição, a morte. Ou seja, quando a Bíblia fala em alguém indo para sheol, fala da pessoa indo para sua morte. Presumindo que foi Samuel quem falou, ele estaria simplesmente usando uma expressão figurativa para dizer que Saul ia morrer. Se ele (Samuel) estava em Sheol (ou seja, morto, “na sepultura”) ele poderia dizer verdadeiramente que Saul iria para o mesmo lugar ( o túmulo, a sepultura, ou seja, a morte.)

Jó afirmou que ia para o mesmo “lugar” que todos os mortos “Pois eu sei que me levarás à morte e à casa destinada a todo vivente.” (Jó 30:23) Segundo esta passagem há um só lugar para o qual todos os seres vivos estão destinados, “a casa destinada a todo vivente.” De certa forma, todos os homens têm o mesmo destino - o além, o outro lado da vida, a morte. Neste sentido sim, com certeza, Saul foi para o mesmo lugar que Samuel.

c. Algumas pessoas alegam que Deus não teria respondido a Saul pelo profeta Samuel.
Devemos notar que em Eze 14:1-11 Deus promete que, embora um homem esteja voltado no seu coração para a idolatria, Deus poderá responder a ele quando ele consultar o profeta. Mas, a resposta de Deus terá como finalidade justamente a destruição deste homem.

Conclusão
Vale a pena uma observação final. Se aquele que falou com Saul foi de fato Samuel, mas alguém hoje em dia diz que foi o demônio, esta pessoa hoje pode estar cometendo um grave pecado diante do Senhor. Em Mateus 12:22-32 Jesus pronuncia uma das condenações mais severas de toda a Bíblia sobre aqueles que chamam uma obra do Senhor uma obra do demônio. Jesus condenou tal erro como “blasfêmia contra o Espírito Santo”. Não cabe a nós julgar ninguém quanto a este assunto. Apenas entendemos necessário alertar todos para a possibilidade de estarem falando mal de um homem de Deus quando faz profecia que se cumpre e quando a própria Bíblia diz que ele era mesmo o profeta Samuel.

A Bíblia condena claramente a comunicação com os mortos:

Lv 19:31 - “Não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados por eles: Eu sou o Senhor vosso Deus.”
Lv 20:6 - “Quando alguém se virar para os necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu me voltarei contra ele e o eliminarei do meio do seu povo.”
Lv 20:27 - “O homem ou a mulher que sejam necromantes, ou sejam feiticeiros, serão mortos: serão apedrejados; o seu sangue cairá sobre eles.”
Dt 18:9-12,14 - “Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor...”
Is 8:19 - “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos?”

A comunicação com os mortos é possível? Tudo que vimos no episódio de necromancia envolvendo Samuel e Saul nos leva a crer que é. Contudo, devemos ressaltar a proibição divina contra esta prática. Ainda lembramos que o evento em que Saul participou de modo algum pode ser usado como autorização para comunicação com os mortos, uma vez que a mesma Palavra que relata este evento condena claramente o que Saul fez:

1 Cr 10:13 - “Assim morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante.”

Deus proibiu de forma categórica e clara a prática da comunicação com os mortos, embora haja evidência na Bíblia de que tal prática é possível. Se uma pessoa hoje em dia quer ignorar tal condenação e proibição, aquela pessoa tem esta liberdade. Ela pode até conseguir a façanha da comunicação com o além túmulo. Mas, um dia ela terá que responder a Deus pelas suas ações. A evidência da Bíblia indica que ela receberá a mesma resposta que Deus deu a Saul. “Assim morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante.” – 1 Cr 10:13.

A morte de Saul ao qual 1 Cr 10:13 se refere foi a morte física. Morrer a morte física já é bastante triste. Mas, há uma morte pior. A pessoa que desobedeça clara proibição do Senhor, buscando a comunicação com os mortos apesar das condenações na Palavra de Deus, tem outra morte à sua espera, a segunda morte. “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.” – Apocalipse 21:8

Esta segunda morte espera todos que desobedeçam a Deus, inclusive, como menciona Apoc 21:8, os feiticeiros. Dificilmente a maioria das pessoas que praticam a comunicação com os mortos iriam se considerar como feiticeiros. Esse termo hoje traz a idéia de magia negra, encantamentos e maldições. Mas, precisamos entender os termos bíblicos no seu sentido original, e não no sentido que as traduções modernas às vezes reproduzem.

A palavra traduzida “feiticeiros” no grego original foi a palavra “pharmakos”. No período em que o livro de Apocalipse foi escrito, o termo original, pharmakos, se aplicava a todo tipo de magia e feitiçaria, inclusive a comunicação com os espíritos. Segundo O Dicionário Internacional de Teologia do NT, no artigo sobre magia e feitiçaria “atestam-se numerosas formas de magia no mundo greco-romano. … A evocação dos espíritos dos mortos já ocorre em Homero, Od. 11, e os necromantes eram reconhecidos como uma classe de mágicos.” (C. Brown, artigo “Magia, Feitiçaria, Magos” em Brown, Colin, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Edições Vida Nova, 1978, tradução Gordon Chown, Vol. III, p. 109.)

Referente ao termos pharmakos, o dicionário explica que, no trabalho destas pessoas “tem havido uma tradição mágica de ervas colhidas e preparadas para encantos, e também para encorajarem a presença de espíritos em cerimônias de magia.” (J. Stafford Wright, artigo “Magia, Feitiçaria, Magos” em Brown, Colin, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. III, p. 114) A palavra pharmakos, embora traduzida “feiticeiros” nas traduções em português, se referia no grego original também àqueles que se comunicavam com os espíritos. Como o livro de Apocalipse alerta, estas pessoas enfrentarão a segunda morte, que é a condenação eterna da alma.

Embora houve pelo menos um exemplo na Bíblia de busca e verdadeira comunicação com os mortos, no caso de Saul e Samuel em En-Dor, este episódio jamais deve servir como exemplo, a não ser daquilo que devemos evitar. As condenações e proibições da Palavra quanto à comunicação com os mortos são suficientemente claras a não deixarem dúvidas. Que todos possam dar ouvidos às alertas da Palavra de Deus e voltar a ouvir e seguir a orientação do único espírito que devemos atender – O Espírito Santo de Deus. “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4:6). Que Deus possa dar ouvidos a todos e que todos possam atender e seguir as palavras dEle.

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As formas e os gêneros literários da Bíblia

É o padrão da exegese moderna. Em geral todo método exegético moderno aborda os seguintes tópicos:

a) critica textual - se os manuscritos originais desapareceram ou nunca foram encontrados, como se sabe se o texto atual corresponde ao original? Até que ponto é fiel? Em 1008, foi encontrado um manuscrito básico para a edição da melhor bíblia hebraica que se tem hoje. Está no museu de Leningrado. Mas, questiona-se: por quanto tempo o livro foi sendo recopiado, e foi adquirindo erros de escrita? Muitas vezes, vários manuscritos (cópias) de um mesmo livro trazem palavras diferentes. E por que tanta fé neste manuscrito?

O manuscrito mais antigo (até pouco tempo) do AT era composto de fragmentos de um papiro do I ou II século a.C. Os beduínos acharam às margens do Mar Morto vários manuscritos datando do II século a.C. e há alguns, como o livro de Isaías, cujo texto é quase completamente igual ao que temos. A Bíblia original (copiada) data do século II d.C. Os rabinos tinham muito cuidado em transmitir a doutrina, e procuravam unificar os textos. Os textos velhos eram colocados em lugares onde ninguém podia mais usá-los, chamados gezidas. Numa destas gezidas foi encontrado um documento do ano 800, aproximadamente, do qual aquele de 1008 é cópia. A diferença entre ambos é pouquíssima. Ora, se a nossa Bíblia é a tradução daquele manuscrito, considerado autentico, aquela Bíblia é a melhor.

b) 'sitz in leben'- Há livros que antes de serem escritos, foram passados oralmente por várias gerações. Cada manuscrito que serviu para a composição de um texto tem uma história diferente. Por isso eles dividem as perícopas e estudam as tradições e fontes delas. E como o manuscrito chegou a esta fonte? Deste estudo se deduz a 'sitz in leben' (situação na vida) deste manuscrito no gênero literário. A 'sitz in leben' que este gênero literário tem na comunidade; a 'sitz in leben' desta comunidade na história.

c) história da redação - Por que há certas palavras a mais ou a menos nos Evangelhos? Isto varia com a 'sitz in leben' do manuscrito. Quem determina isto é a critica literária. Tudo isto dentro do estudo da história das formas.

2. PRINCIPAIS GENEROS LITERÁRIOS DA BÍBLIA

Dividem-se assim os diversos gêneros literários encontrados na Bíblia:

a) Narrativo: histórico e didático

b) Legislativo

c) Sapiencial

d) Profético

e) Cânticos

a) narrativo-didático: mito, saga, legenda, conto, fábula, alegoria, parábola

l. mito - conto que se passa com deuses, ou cujos personagens são os deuses. Têm tonalidade solene e são originários de círculos politeístas. A mitologia babilônica, por exemplo, muito influenciou no povo de Israel, que sempre foi monoteista. Isto se vê nos salmos 103, 6-9; 17, 8-16; 88, ll e nos proféticos: Job 26, l2. Nos livros históricos, a influência é mais velada. Mas a árvore da vida do Gênesis já existe num poema de Gilgames (de origem Babilônica): um herói perguntou a um seu antepassado que era deus, onde ficava a árvore da vida. Ele a encontrou no fundo do mar, e levou um ramo para plantar. Tendo sede, foi beber num poço e uma serpente levou o seu ramo. A história do dilúvio tem uma similar na cultura babilônica. É o caso de uma deusa que era amada ao mesmo tempo por um deus e por um homem. Então para matar o homem, o deus mandou o dilúvio.

O importante a se notar nisso tudo é que, ao ser transcrita para o livro sagrado, o autor purifica a lenda, tirando as características politeístas e servindo-se da cultura popular para levar uma mensagem. A árvore da vida, na bíblia, significa que o homem foi criado para não morrer. Na sabedoria babilônica, explicam que o mundo nasceu de uma briga dos deuses. O deus vencido foi partido ao meio. De uma metade fez o deus vencedor o céu; de outra fez a terra. Depois pediu a um deus artista que fizesse o homem com o sangue apodrecido do deus vencido. Por isso, o homem e o mundo são maus do principio. O autor sagrado aproveita-se destes elementos, mas purificando-os e adaptando-os. A tradicional briga dos anjos com Lucifer existe num mito fenício sob a forma de uma briga de deuses. A linguagem mítica da bíblia, o antropomorfismo de Deus... tudo isto tem origem desta inspiração na literatura exterior a Israel.

2. saga - contos que se ligam a lugares, pessoas, costumes, modos de vida dos quais se quer explicar a origem, o valor, o caráter sagrado de qualquer fenômeno que chama a atenção. A saga se chama etiológica quando procura a causa de um fenômeno. Por exemplo, para explicar a existencia de uma vegetação pobre e espinhosa na região sul ocidental do Mar Morto, surgiu a lenda de Sodoma e Gomorra, a chuva de enxofre... A origem de várias estátuas de pedra, formadas pela erosão é explicada pela história da mulher de Ló, que foi transformada em estátua. A narrativa de Caim e Abel é outra, para explicar a origem de uma tribo cujos integrantes tinham um sinal na testa. Explicavam que Deus colocara um sinal em Caim para que ninguém o matasse, e daí este sinal ficou para a descendência. O próprio nome de Caim é inventado, porque a tribo tinha o nome de cainitas e eles deduziram que seu fundador devia chamar-se Caim.

A saga se chama etimológica quando é para explicar um nome. Existe na Palestina uma Ramat Leqi (montanha da queixada). Para explicar a origem deste nome eles inventaram a estória de Sansão, um homem muito forte, que lutara contra muitos inimigos usando uma queixada, e os vencera. Depois ele jogou a queixada naquele monte, que ficou c conhecido como monte da queixada. 0 caso das filhas de Ló (Gen, 19) é uma história difamatória contra os amonitas e moabitas, tradicionais inimigos de Israel. (Amon e Moab significam 'do pai'). Outras sagas da Bíblia: a de Noé embriagado; a briga de Labão com Jacó (Gen 31). A saga se chama heróica quando tem por finalidade engrandecer a vida dos heróis do passado. O valor da saga está na riqueza popular (folclórica) que ela traz. Nem sempre há lição em cada uma. Mas a fartura de detalhes que ela traz mostra a mentalidade do povo. Seu valor é maior para a critica literária.

3. legenda - distingue-se da saga porque se refere a pessoas ou objetos sagrados e querem demonstrar a santidade destes por meio de um fato maravilhoso. Legendas na Bíblia há em Num 16,1 - 17,15: histórias a respeito de Moisés; Dan l, 2, 3, 4: sonhos de Daniel; Os milagres de Elias contra os sacerdotes de Baal; Gen 28,10: Jacó sonha com os anjos (pedra de Betel). É comum nas legendas referir-se à lei ou objeto de culto. A imolação de Isaac, que não deu certo, é para reprimir um costume dos cananeus de imolar crianças, costume proibido pela lei de Moisés. A serpente de bronze (Num 21) se refere a uma serpente de bronze mandada fazer pelo rei Manassés, que foi destruída por Javé. A circuncisão (Gen 17) é explicada assim: Deus apareceu a Abraão para fazer aliança com ele e o pacto era a circuncisão de todos os meninos no oitavo dia. Jos 5, 9 e Ex 12 e 13 falam da origem da Páscoa.

4. parábolas, fábulas, alegorias - parábola é uma história comparativa, de sentido global (ex: II Sam 12, 1-4); fábula é a narrativa que faz os seres inanimados ou os animais falarem (ex: Juízes, 9,7); alegoria é uma história comparativa em que cada elemento tem um significado particular (ex: Is 5, 1-7). Há ainda o apólogo, quando se trata da animação de objetos.

b) narrativo-histórico

Difere do didático porque pretende contar um fato acontecido realmente. Há três tipos:

1. popular, onde ninguém sabe o fim da lenda e o começo da história. É uma história primitiva, baseada em histórias que corriam na boca do povo, um misto de elementos verídicos e legendários acrescentados. Os livros Josué e Juízes (550 a.C.) estão nesta categoria.

2. epopéia (nacional-religiosa) são histórias retiradas da catequese do povo. Se bem que tenham elementos acrescentados, todavia a mensagem pode ser considerada autêntica. O exemplo mais típico deste gênero é a narração epopéica da passagem do mar vermelho (Ex. 14 ). A fuga de Israel do Egito está ligada a um fato acontecido no tempo de Ramsés II. Ele foi um faraó que empreendeu grandes conquistas, principalmente à procura de escravos para trabalhar. Entre os povos submetidos havia um grupo de judeus. Mais tarde, fraquejou a vigilância, e muitos fugiram, inclusive muitos judeus. Então eles empreenderam a fuga pelo deserto e se aproveitaram de uma região onde havia um braço de mar que secava durante a maré baixa para sair do território egípcio.

Esta narrativa na Bíblia é contada com todos aqueles retoques conhecidos. Mas se analisarmos bem, veremos que na própria Bíblia, há duas citações do mesmo fato, e cada uma conta diferente. São as duas tradições: a javista, mais antiga e mais verdadeira, afirma que o vento soprou durante toda a noite e fez o mar recuar; a sacerdotal, mais recente, modificou a narração para a divisão das águas em duas muralhas por onde todos passaram em seco. Há uma certa contradição nestas duas. Mas o que se deve concluir daí é que os soldados os perseguiram na fuga e eles passaram na maré baixa. Quando os soldados chegaram, a maré já subira e não dava passagem. Enquanto isso, eles se adiantaram ainda mais. Ao transcrever isto na Bíblia, o autor sagrado quer mostrar o fato da presença de Deus em ajuda de seu povo, através dos elementos da natureza.

3. historiográfico - é o trabalho dos escribas encarregados de escrever as crônicas dos anais dos reis. A partir destas crônicas vários livros foram escritos. 0 I Reis, cap. 11, vers.41 cita os anais de Salomão; em 14, 19 afirma que o restante está nos livros das crônicas dos Reis de Israel. São documentos de maior credibilidade, porque são mais históricos. Somente a partir do livro dos Reis, é que são usados documentos escritos na época.

Antes era apenas história popular.

c) Legislativo

É representado na Bíblia principalmente no Pentateuco. Tem muito em comum com os outros povos vizinhos e herdou muito deles. Há passagens na Bíblia que são repetições do código de Hamurábi. Os povos orientais são muito ricos neste tipo de literatura. Quanto aos tipos de leis, há três: 1. leis causídicas: pormenorizadas conforme as situações; 2. leis apodíticas: universais; 3. leis rituais.

d) Sapiencial

Originou-se também dos povos vizinhos, principalmente a partir do Exilio. São de origem profana e não religiosa, pois as suas fontes também não eram religiosas. 0 povo oriental é pensador por natureza e a sabedoria é uma virtude muito difundida e apreciada. A sabedoria bíblica não difere muito da sabedoria oriental em geral.

e) Profético

Também tem origem fora de Israel. Os povos da época tinham seus profetas. Eles moravam nos palácios dos reis e eram os que dialogavam com os deuses. É preciso notar que naquela época profeta não era sinônimo de adivinho, como às vezes se identifica. Eles·manifestavam ao povo a vontade de Deus com sermões, com sinais, exortações e oráculos.

f) Salmos

Também tem influência externa (fora de Israel). Não são todos de Davi. Apareceram conforme as necessidades. Foram compostos sem sequência ou cronologia. São cantos de louvor, de súplica.

PRINCIPAIS ETAPAS DA HISTÓRIA DE ISRAEL

O primeiro marco importante na história politica·de Israel foi o exílio. Sua finalidade politica era para evitar a rebelião. Em geral, quando era conquistado um povo muito numeroso, os conquistadores achavam perigoso deixá-los em suas terras de origem, porque isso lhes facilitava um trabalho oculto de rebelião para expulsar os invasores. Então, longe de suas terras e sem uma liderança, eles não podiam se movimentar. Os judeus foram assim exilados para a Babilônia. 0 exílio teve início no ano 587 e foi concluído com o edito de Ciro que, em 538 conquistou a Babilónia e libertou os judeus.

Dizem os historiadores que a rivalidade entre judeus e samaritanos começou na volta do exílio. O povo no exilio ficou muito tempo em contado com vários povos estrangeiros e adquiriu com isto um sincretismo religioso que levaram para a Pátria. Ao retornarem à patria, logo eles empreenderam a reconstrução de Jerusalém (casas, templo...), mas não se livraram completamente das influências politeístas, causando assim várias brigas internas.

O Sinédrio era a cúpula religiosa da nação, composta de 70 membros sob a presidencia do Sumo Sacerdote, que tinha autoridade suprema. Os fariseus e saduceus eram partidos politicos, mas com inspiração religiosa. Os primeiros eram da oposição e os outros, da situação. No ano 63 a.C, a Palestina foi conquistada pelos Romanos, iniciando outra era de dominação estrangeira, que perdurou até o tempo de Cristo.

CRONOLOGIA BÍBLICA

* séc.XIX (1850 a.C) - migração de Abraão.

* séc.XIII - libertação do Egito; êxodo (1225 a.C.); aliança no Sinai.

* séc X - (1013 a 973 a.C) - Tempo do Rei Davi. Foi escrita a tradição javista (sul); (970 a 930 a.C) - Tempo do Rei Salomão. Foi escrita a tradição eloista. (norte); (930 a.C) - divisão dos reinos.

* séc VIII (722 a.C) - queda de Samaria para o exército de Sargão II, Profetas escritores.

* séc VII (586 a.C) - queda de Jerusalem para Nabucodonosor, rei da Babilônia; (538 a.C) - edito de Ciro, volta do exílio.

* séc III (300) - tradução dos 70.

Deputado evangélico organiza evento para pedir aos fiéis apoio a Dilma

Ivan Iunes

Publicação: 29/09/2010 08:10 Atualização: 29/09/2010 08:27

A subida da presidenciável Marina Silva (PV-AC) nas pesquisas de intenção de voto fez com que a campanha da petista Dilma Rousseff organizasse nova ofensiva sobre o eleitorado evangélico para tentar liquidar a eleição no primeiro turno. De olho no segmento religioso, que representa cerca de 34 milhões de votos, os petistas marcaram para a sexta-feira, às 10h, uma reunião em Brasília de lideranças de igrejas como a Universal do Reino de Deus, a do Evangelho Quadrangular, a Batista e a Assembleia de Deus. A intenção é unificar os discursos dos pastores, para que peçam votos dos fiéis nos cultos marcados para a véspera do pleito. A tarefa, no entanto, promete ser difícil. O apoio à petista coloca várias instituições evangélicas em cantos opostos da mesa.

O encontro, organizado pelo deputado federal e bispo da Assembleia de Deus Manoel Ferreira (PR-RJ), terá protestos de fiéis. Eles estão descontentes (1) com a decisão do religioso de anunciar o apoio do Ministério Madureira — ramo importante da Assembleia controlado por Ferreira —, à candidatura petista. “O que estamos querendo denunciar é a questão do voto de cabresto. Querem criar um curral eleitoral, estão vendendo algo (os votos dos fiéis) que não será entregue”, critica o servidor público Ismael Almeida, membro da igreja.

O maior ponto de insatisfação de parte dos evangélicos com o apoio a Dilma é o desprezo à candidatura de Marina Silva, da Assembleia de Deus. “O pastor está confundido eleição com religião, quer lucrar politicamente com a instituição. O que chama mais a atenção é que temos uma evangélica nas eleições”, reclama Ismael. Ramificação rival do Ministério Madureira dentro da Assembleia, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil decidiu permanecer à margem do processo eleitoral, mas a maior parte dos pastores da instituição aderiu à campanha de Marina.

“Orientação”
De acordo com o bispo Ferreira, o encontro de sexta-feira não tem como intenção pressionar pelo apoio à petista, mas apenas orientar o discurso dos pastores para a votação dos fiéis. Desde que assumiu a coordenação religiosa da campanha de Dilma, este será o segundo encontro do segmento promovido pelo bispo. “Nessa hora de definição, o campo da boataria é muito forte, mas o clima é de apoio total a Dilma. Algumas pessoas divergem, mas não há tensão alguma, são pessoas sem representatividade dentro da igreja”, minimiza Ferreira.

O bispo garante que as igrejas não anunciaram apoio a Marina porque a candidata verde não buscou entendimento com o segmento religioso. “Ela lançou o nome dela sozinha e está trabalhando sobre ele, não houve conversas, apoiamento, nada mais forte. Se ela tivesse nos procurado, pode ter certeza de que receberia o nosso apoio”, garante o bispo da Assembleia. A contar pela receptividade prometida por parte dos fiéis na sexta-feira, a unidade em torno de Dilma pode desmoronar no dia da eleição.

Os evangélicos contrários ao apoio à petista devem promover o protesto com diversas faixas, exigindo o posicionamento da candidata em temas polêmicos como a questão do aborto, a união homoafetiva e a descriminalização da maconha. A manifestação será semelhante à enfrentada por Dilma no fim de julho. O encontro de sexta está marcado para a sede da Assembleia de Deus em Brasília, na 910 Sul, às 10h.

1 - Ruídos
Para tentar dirimir os ruídos com os evangélicos, Dilma Rousseff se reune hoje, às 11h, com diversas lideranças do segmento religioso. A petista explicará dois pontos que têm preocupado os estrategistas da campanha. O primeiro é a questão do aborto, em que Dilma deve se posicionar contrária à prática e se comprometer a deixar a discussão para o Congresso. O segundo ponto diz respeito a uma frase que tem sido atribuída à candidata na internet: “Nem Deus vai tirar a minha vitória nesta eleição”. A petista nega a declaração. Participarão do encontro o bispo da Assembleia de Deus Manoel Ferreira e o bispo Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, entre outras lideranças.

Colaborou Denise Rothenburg

Perguntas que aniquilam o aniquilacionismo e o mortalismo

As testemunhas de Jeová e os adventistas do sétimo dia, bem como alguns outros grupos protestantes, não aceitam a vida após a morte (doutrina mortalista) nem a existência do inferno eterno (pregam o aniquilacionismo). A seguir, porém, você encontra 57 perguntas que mostram a falta de base bíblica da doutrina mortalista e do aniquilacionismo dessas seitas.



1- Explique-nos porque Jesus diz que para Judas era melhor não ter nascido (Mc 14,21). Por que melhor não ter nascido, se, segundo os mortalistas, ele apenas voltará ao estado de inexistência? Voltar ao estado de inexistência de antes de nascer não tem diferença de nunca ter nascido. Não acha?



2- Sendo que na morte não existem nem corpo nem alma, o que ressuscitará? O que será restaurado no corpo ressuscitado se não sobrou nada? Não percebem que negando a vida póstuma caem no erro dos saduceus, isto é, passam a negar a própria ressurreição? De fato, negando a imortalidade da alma, os mortalistas não creem na ressurreição, mas sim numa recriação.



3- Segundo vocês, tudo morre, alma e corpo. Se a alma morre, juntamente com o corpo, nada sobra da pessoa original. Quando Deus nos ressuscitar, na verdade não seremos a mesma pessoa, seremos apenas "clones" do que fomos, mas nunca os originais. Isso mostra que a esperança de vocês, de encontrarem parentes e amigos na ressurreição, é pura fantasia! Se não existe nada vivo do original, não tem como restaurar (ressuscitar) a pessoa, será apenas um NOVO ser com as características anteriores, mas nenhuma célula do original. Como explicar isso? Na verdade, para vocês não existe ressurreição, mas sim RECRIAÇÃO. Logo, vocês estão tão equivocados quanto os saduceus. Iguais a eles, negam a ressurreição, mudando apenas a roupagem.



4- Se houvesse de fato sono da alma, Cristo teria passado três dias sem ser Deus, pois estaria dormindo! E Deus teria definitivamente sumido, ao menos durante três dias. Pode Deus chegar a um estado de inexistência?



5- Paulo falou de um homem que foi arrebatado ao céu no corpo ou fora do corpo, mostrando assim a possibilidade de tanto no corpo como no espírito dele ter ido ao Céu! (2Cor 12,2). Que parte “fora do corpo” poderia existir para possibilitar Paulo a ir ao céu? Se não há a alma, algo imaterial no homem, como poderia Paulo supor que poderia ir ao céu “fora do corpo”? Poderia serem as tripas, a cabeça ou outra parte do corpo? O apóstolo evidentemente admitiu a hipótese de a alma retirar-se do corpo, pois não sabe ao certo se o corpo ficou na terra, como que morto, enquanto seu espírito estava no paraíso, ou se ele, por inteiro, foi arrebatado.



6- Considerando que defendem a total extinção dos ímpios, perguntamos: "Por que Deus tiraria os ímpios de suas sepulturas (Apc 20,5) para em seguida aniquilá-los? Eles já não estão mortos? Não já estão aniquilados? Não parece isso irracional?



7- Por que em todos os casos em que a Escritura Sagrada usa a expressão “Em verdade te digo”, os mortalistas põem a pontuação no lugar em que todos colocam (logo após a expressão), mas somente em Lc 23,43 é que mudam?
Leiam isto aqui:
http://www.bibliaworldnetutil.locaweb.com.br/biblia/por_estudoconteudo.asp?cod_ESTUDO=342



8- Por que Cristo acrescentaria desnecessariamente a palavra HOJE, em Lc 23,43, se ele estava falando exatamente naquele dia? E se considerarmos que ele estava morrendo drasticamente, cheio de dores, como usaria uma palavra óbvia e inútil?



9- Por que Daniel (12,2) afirma que os ímpios ressuscitarão para “a vergonha eterna”? Por que vergonha, se serão aniquilados? Como alguém aniquilado terá vergonha, e, mais ainda, eterna?



10- Segundo Mt 10,28, o que é que o homem não pode matar? Por que Jesus afirma nesse texto que a alma não morre na primeira morte? Como a alma pode escapar da morte, se segundo os mortalistas, o homem não possui nada em si que tenha sobrevivência póstuma?



11- Se alma aqui é uma “potência de vida eterna”, os discípulos para os quais Jesus falou essas palavras precisaram fazer todo esse longo raciocínio a fim de concluírem isso? Se alma aqui não é mesmo alma, então, corpo também não é corpo? Por que mudar o sentido de alma e não o de corpo? Não estão no mesmo contexto? Vocês têm certeza de que uma pessoa qualquer iria chegar a esse raciocínio tão complicado de vocês sobre o sentido de alma aí, lendo sozinho as Escrituras? Isso tudo não contraria o princípio da clarividência das Escrituras, tão defendido por vocês? Mais: esse sentido de alma como “potência de vida eterna” era comum na época de Jesus, ou é um sentido moderno, dos nossos dias? Se for daquela época, vocês podem nos dar um exemplo de alma com esse sentido fora esse texto de Mt 10,28? Ainda: O que significa a expressão “matar a alma”? O texto não está claramente dizendo que o homem não pode matar a alma? Por que os mortalistas se utilizam desse texto para afirmarem que a alma morre, se segundo eles o texto não fala de alma, mas sim de “potência de vida eterna”?



12- Ainda sobre Mt 10,28: “Quais destes dois é pior: o aniquilamento ou o sofrimento eterno no inferno?” O sofrimento eterno no inferno é infinitamente pior do que o aniquilamento, não é?. Pois bem: “Qual desses dois faria qualquer homem (cristão ou não) tremer de medo? o risco de ser aniquilado (aqui a pessoa deixa literalmente de existir) ou o de sofrer eternamente no inferno (aqui a pessoa continua existindo)?” Logicamente que é o risco de uma pessoa ser lançada no inferno, concorda? Sofrer eternamente é muito pior do que o risco de ser aniquilado, já que o aniquilamento instantaneamente, num piscar de olhos, põe um fim literal e irrecuperável na existência humana. Sendo assim, qual o sentido de apollumi (perecer) em Mt 10,28? Jesus diz aí que o castigo infligido por Deus é infinitamente pior do que a morte do corpo que os homens podem aplicar. Porém, se apollumi aqui é “aniquilar” (ou seja, o aniquilado não sente mais nada, já que ele não mais existe), então como que esse aniquilamento feito por Deus pode ser pior do que a morte do corpo que os homens podem fazer? Se a pessoa aniquilada não mais existe, então que diferença há em morrer nas mãos dos homens ou nas mãos de Deus? Por que Jesus diria que ser destruído nas mãos de Deus é pior que ser destruído nas mãos dos homens? Não dá tudo no mesmo? De qualquer forma o homem não volta ao estado de inexistência?



13- O verbo “exterminar” no grego é “apokteinõ” e aparece em Mt 10,28 referente ao corpo. Mas por que o evangelista Mateus quando fala na “morte da alma” mudou o verbo para “apollumi” (que em vários contextos bíblicos significa apodrecer, arruinar-se, sofrer, padecer- Rm 14,15; 1Co 8,11)? E por que Lucas (12,4.5) complicou mais ainda colocando o verbo grego “lançar” em vez de “exterminar”?



14- Teria Jesus cometido o deslize de causar tremenda confusão entre as gerações futuras ao dizer que três almas – Abraão, Lázaro e o rico – em Lc 16,19-31, haviam se separado do corpo, na morte, e estavam, conscientes, em seus devidos lugares, mesmo sabendo que a alma morre com o corpo? Não acham improvável? Sejam diretos e claros, vocês dariam uma ilustração doutrinária baseados numa crença que vocês rejeitam?



15- Os aniquilacionistas utilizam-se da palavra “destruição” para supor a morte da alma. Mas, por que tal palavra no grego (apollumi) em muitos contextos bíblicos significam apenas apodrecimentos, ruína, mas não aniquilamento total (Ex: Mt.9,17-18; Lc 5,37; 15,4.6.24; Jo 6.27; 1Pe 1.7)? E quem disse aos aniquilacionistas que destruição significa necessariamente aniquilação? Em Jó 19,10, por exemplo, Jó diz que ele é demolido, mas nem por isso tal palavra significa aniquilamento. Em Hb 2,14, diz a Sagrada Escritura que na sua morte Jesus “destruiu” o demônio, mas evidentemente ele ainda está vivinho da silva. Não dá para perceber que assim como os alimentos perecem (Jo 6,27, mas a matéria não é aniquilada), assim como os odres perecem (apollumi – Mt 9,17-18), ESTRAGAM-SE mas não são aniquilados, assim também os ímpios perecem, mas não são aniquilados (Mt 24,51)? A destruição dos maus obviamente é uma destruição moral, é uma decadência, uma ruína, mas jamais aniquilamento, jamais é volta à inexistência.

16- Se morte é necessariamente aniquilamento, por que a palavra grega para morte é “thanatos” e significa “separação”? Veja exatamente essa palavra grega usada em Lc 15,24.32, por exemplo, não significando aniquilamento, mas exatamente separação.



17- Se os maus serão exterminados, por que Jesus falou em “castigo eterno” em Mt 25,46? Se a palavra “eterno” para os maus aí significa apenas um tempo indeterminado, por que a mesma palavra grega também não significa isso para os salvos? Não está a mesma palavra grega no mesmo versículo? Não é exatamente o contexto que determina o sentido de uma palavra? E por que a palavra grega para “castigo” aí (kolazo) e o seu verbo correlato, aparece mais 2 vezes no NT e tem somente o significado de “castigar” ou “castigo” (At 4,21; 2Pd 2,9; 1Jo 4,18)?



18- Se não existe alma, por que em Mt 10,28 Cristo a distingue do corpo e Lc 12,4.5 substitui a expressão “corpo e alma” por “pessoa”? Não dizem os mortalistas que alma é apenas a pessoa? Por que, então, Lucas entendeu pessoa como um composto de corpo e alma?



19- Se haverá aniquilamento total da pessoa, por que Lc 12,4.5 entendeu o verbo “perecer” de Mt 10,28 como “lançar”, em vez de “destruir”?



20- Se “Cheol” ou “Hades” é apenas a sepultura, então:
a) Por que Jesus fez uma ilustração usando o termo grego “hades” como um lugar de vida (Lc 16,19-31)? Por acaso uma parábola tem o poder de mudar o sentido das palavras?
b) Por que o hebraico e o grego têm palavras próprias para sepultura (QEVER, no hebraico; e MNEMEION no grego)?
c) Por que Jacó imaginou o Cheol como algo diferente de sepultura em Gn 37,35.36?
c) Por que Jonas achou possível gritar do cheol (Jon 2,2)?



21- Se a expressão “dormir” na Bíblia significa mesmo inconsciência, então, “descansar” também (Hb 4,1)? Estarão os salvos inconscientes e para sempre juntos de Deus? Por que, também, a Escritura Sagrada só usa as palavras “dormir” e “descanso” referentes às pessoas de Deus? Não dá para perceber que tais palavras se referem à felicidade eterna, sem negar a vida póstuma? Não dá para perceber que tais palavras pretendem contrapor-se àquelas referentes ao destino dos maus como “castigo, choro e ranger de dentes, suplício”? São Paulo não afirmou que o estado de sono nos isole de Deus. Veja 1Ts 5,10.



22- Se Geena é um mero símbolo de destruição eterna, por que, então, em Mc 9,47.48 Cristo diz que é pior parar na Geena com o corpo inteiro? Se Geena é mesmo um lugar de destruição, que diferença faria ir para lá faltando algum membro do corpo ou com ele completo?



23- De onde Jesus tirou a concepção sobre uma Geena? Da cultura judaica? Então, se para Jesus, Geena é um mero símbolo de destruição, por que Ele usa essa palavra como equivalente de castigo eterno e de lugar onde há choro e ranger eterno de dentes (Mt 12,42)? Além disso, por que em todas as literaturas judaicas antigas, da época de Cristo, sempre mostram tal lugar como equivalente a um lugar de eterno sofrimento, em vez de significar destruição?



24- Se Ecl 9,5.10 é mesmo prova de que não há vida pós-morte, então, tal passagem também prova que não há ressurreição e que bons e maus terão o mesmo destino, uma vez que tal texto diz que bons e maus têm o mesmo destino e que não há mais esperança alguma para eles (Ecl 9,2.5.10)?



25- Por que a Escritura fala em sofrimento eterno (Mt 25,46), prisões eternas (2Pd 22,4), fogo que não se apaga (Lc 3,17), perdição eterna (2Ts 1,8.9), tormento eterno (Apc 14,11; 20,10), não terão descanso algum nem de dia nem de noite (Apc 14,11)? Seu verme não morre e o seu fogo não se apaga (Mc 9,47-49)? Por que essa insistência em eternidade, se os maus serão destruídos? Se objetarem que o termo “eterno” pode significar apenas “tempo indefinido”, ainda perguntamos: e por que os escritores sacros fizeram questão de detalhar essa eternidade dizendo “nem de dia nem de noite”, como que querendo enfatizar a eternidade real? E por que “o fogo não se apaga”? Ora, se o fogo é eterno, obviamente é porque aquilo que é consumido pelo fogo também é eterno, isto é, a alma dos que vão para o inferno é eterna, pois sofre a pena no fogo eterno. Se a alma fosse aniquilada, haveria algum sentido em o fogo ser eterno?



26- Se o lago de fogo é destruidor, aniquilador, por que, então, a Bíblia diz que a fera e o falso profeta são jogados vivos ali (Apc 19,20)? E por que, também, a fera e o falso profeta ainda estavam nesse lago quando o demônio foi nele lançado, se foram imediatamente destruídos (Apc 20,10)?



27- Se “perdição eterna” em 2Ts 1,7-9 significa “destruição eterna”, por que, então, São Paulo acrescenta “longe da face do Senhor e da suprema glória”? Não acha inútil acrescentar isso, se tal expressão denota aniquilamento?



28- Se após a morte, nada mais resta, por que Paulo diz que morrer é um lucro (Fl 1,20-24)? E como ele disse que queria morrer para estar com Cristo? Estar como, se, conforme a visão mortalista, ele iria dormir? Que vantagem haveria para Paulo ir embora e ficar em um sono profundo, sendo que a obra que tinha, ele considerava muito importante a ponto de ficar em dúvida se partia com Cristo ou se ficava na terra? Se ele desejava ardentemente ficar com Cristo, independente de morrer agora, ou anos depois, faria sentido se considerarmos a hipótese do sono?



29- Se Rm 6,23 é prova de que a morte física, a primeira morte, é quem apaga os pecados, então, por que os mortalistas pregam o aniquilamento no final dos tempos? Se após a morte, os maus já pagaram, com a própria morte, os seus crimes, então, o aniquilamento pós- ressurreição no final dos tempos servirá para pagar o quê? Além disso, quem falou que a morte de que trata o apóstolo Paulo aí é a morte física? De fato, "o salário do pecado é a morte" (Rm.6,23), mas que morte? A morte espiritual e não a física, pois mesmo Jesus (que nunca teve pecado) morreu fisicamente.



30- Por que os mortalistas se utilizam de textos que no contexto falam do tempo presente, para sustentarerm o aniquilamento no final dos tempos? Por que esse desrespeito ao contexto? (No contexto dos Salmos 37 e de Prov 10,25 você constata isso). Recomendo a leitura deste artigo aqui:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=32979654&tid=5439085135933748057



31- Morreram Adão e Eva no sentido em que os mortalistas interpretam a palavra morte - 'um estado temporário de inconsciência enquanto a pessoa aguarda a ressurreição'? Deus não havia dito que, “... no dia em que dela (o fruto da árvore da ciência do bem e do mal) comeres, certamente morrerás"? (Gn 2,17). Aconteceu de fato a morte física do casal? Não! Deus mentiu? Claro que não! O que realmente aconteceu? Morreram sim naquele mesmo dia, pois foram postos fora da comunhão com Deus (Gn 3,8.9) e fora do Jardim do Éden (Gn 3,24). Fisicamente, Adão veio morrer com 930 anos. (Gn 5,5), mas a morte espiritual ocorreu naquele mesmo dia. Esta é a morte a que se refere o escritor sagrado. Veja o emprego da palavra morte no sentido de separação espiritual de Deus em Mt 8,22; Lc 15,24; Ef 2,1.5;1Tm 5,6;1Jo 3,14; Ap 3,1.



32- Se homens e animais pós-morte se encontram no mesmo estado de inconsciência, por que só dos homens se diz que Deus os criou soprando nas narinas (Gn 2,7) e diz que o espírito deles volta para Deus (Ecl 12,7)?



33- Por que após séculos da morte dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, Jesus disse que Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos e disse também que para Deus eles ainda estão vivos (Lc 20,38)?



34- Quem disse que o verme descrito em Mc 9,47.48 é um bicho da terra? O texto fala claramente no verme humano, pois diz “onde o SEU bicho [verme] não morre...”, não de um bicho da terra.



35- Se todos os maus sofrerão o mesmo castigo, o aniquilamento, por que, então a Bíblia diz: “...Por isso, SOFREREIS MAIS RIGOROSO JUÍZO” (Mt 23,14), “... Estes receberão juízo muito mais severo” (Mc 12,40); “... Estes receberão maior condenação” (Lc 20,47). “DE QUANTO MAIOR CASTIGO CUIDAIS vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajar o Espírito da graça?” (Hb 10,29)?



36- Quem disse que a ressurreição nega a vida pós-morte? Os textos que falam da glória do homem na ressurreição no máximo não negariam a glória póstuma do homem?



37- Quem disse que Ez 18,4 prova a morte física da alma? Vocês têm certeza de que o profeta está mesmo falando aí da morte física? Se for, por que o verso 21 diz que o mau pode escapar da morte? Como escapar, se todos, até os bons estão sujeitos a ela? Não dá para perceber que o profeta Ezequiel está falando aí da segunda morte, ou seja, da morte espiritual? (Vão no mesmo caminho os seguintes textos: Sl 34,21; 62,3; Is 11,4; Rm 8,13; Tg 1,15).
Leiam também:
http://hairesis-seitaseheresias.blogspot.com/



38- Por que na história da Igreja os cristãos nunca duvidaram da imortalidade da alma? Sabia que essa ideia só apareceu com o humanismo e iluminismo iniciados no século XVI?



39- Por que o sábio Salomão diz em Ecl 12,7 que o corpo, volta ao pó, mas o espírito volta para Deus? Não contraria esse texto claramente a visão mortalista? Se os mortalistas alegarem que esse texto ensinaria o universalismo, perguntamos: Quem disse isso, se o contexto diz claramente que o espírito volta para Deus para prestar-lhe conta (v. 13 e 14)?



40- Por que Hb 11,13-16 dizem que os patriarcas desejam a ressurreição? Como desejam (no presente), se, segundo os mortalistas, eles estão inconscientes?



41- Se é verdade que após a morte nada sobrevive, então, foi ilusão de Paulo supor que desejaria ausentar-se do corpo para morar com o Senhor em 2Cor 5,1-10?



42- Quem disse que o fogo a que se refere Jd 7 é o fogo que destruiu a cidade de Sodoma e Gomorra? Não dá para perceber que ao referir-se ao fogo eterno o apóstolo está se referindo ao inferno eterno, e, portanto, está se referindo às pessoas e não aos prédios e casas da cidade?



43- Quem disse que 2Pd 2,6 nega a eternidade do inferno? Qual é conclusão que o Primeiro Papa tirou dessa afirmação? Veja o versículo 9: castigo. A palavra grega aí é correlata da mesma que aparece em Mt 25,46.



44- Por que a maioria esmagadora dos protestantes creem na vida após a morte?



45- Por que além de Cristo falar em vida póstuma (Lc 16,19-31), o autor do Apocalipse também fala (Apc 6,9-11)? Se disserem que esse texto, juntamente com a história do rico e Lázaro, são meros simbolismos, permanece a pergunta atrás já feita: vocês se utilizariam de uma crença pagã para ilustrarem vossas doutrinas? Por que em vez de Cristo e são João não usarem essa crença pagã de vida póstuma para a condenarem, ao contrário, ela lhes serve de recurso para ensino doutrinário? Se para os mortalistas não se tira doutrina de parábolas, por que, então, Cristo tiraria um ensino de uma doutrina pagã? Qual é o pior?



46- Se 1Tm 6,16 nega a imortalidade da alma, então, seguindo esse raciocínio podemos dizer que os anjos também não são imortais? Significa também que o homem nunca vai conseguir a imortalidade, uma vez que o texto afirma que o imortal é só Deus? Não dá para entender que Paulo diz isso aí apenas relembrando-nos que só Deus NÃO TEM COMEÇO NEM FIM, ou seja, q só Deus é SEMPRE? E isso é a mais pura verdade, pois a alma foi criada. Ela teve um início, embora não terá mais fim, nem sequer por um minuto.



47- Vocês têm certeza de que Is 38,18 nega a vida após a morte? Se for assim, então, o texto também nega a ressurreição, uma vez que ele afirma que os mortos não mais aguardam nada?



48- Por que os mortalistas gostam de usar o sentido de espírito como vento, por exemplo, para negar a existência do espírito como uma entidade capaz de sobreviver á morte e ter consciência? Se for assim, então, Deus também não é um ser consciente e não tem existência própria pelo fato de João 4,24 dizer que “Deus é espírito”?



49- Por que os aniquilacionistas usam Jer 7,31 para combater o inferno de fogo eterno? Onde está a lógica deles com esse texto? Como usam esse texto para negar o inferno de fogo, se eles insistem que Deus vai destruir o mundo exatamente com fogo? E por que Deus destruiu Sodoma e Gomorra exatamente com fogo (Gn 19,23.24; Sl 11,6; 97,3: Is 33,14; Ez 10,2), se para os aniquilacionistas Jer 7,31 prova que Deus não quer arruinar os maus com fogo? E pior: por que os aniquilacionistas citam tanto 2Pd 2,6 como prova de que os maus serão destruídos, se para eles Deus não deseja queimar ninguém, uma vez que o texto de Pedro diz exatamente que o fogo que consumiu as duas cidades servem de exemplo para os maus, os quais serão jogados no fogo eterno? Não acham os aniquilacionistas que se Jer 7,31 negasse mesmo o inferno de fogo eterno, negaria também o próprio aniquilacionismo, e, que, portanto, o correto seria o universalismo? Leiam ainda Ap 20,9.



50- Por que Cristo disse em Lc 24,39 que “um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho”? Por que diria isso o Senhor Jesus, se espírito não é uma entidade que sobrevive à morte? Por que precisou falar assim, em vez de reforçar a inexistência de espírito? E além disso, por que em vez de reforçar a ideia de espírito como um mero sopro, o Senhor supõe o espírito como entidade que possui vida, negando apenas que ele é um composto de matéria?



51- Vocês têm condições de nos dar ao menos um versículo que diga que no final dos tempos haverá ressurreição com corpos mortais, ou seja, que na ressurreição alguém vai ressuscitar e ficar com corpo mortal em vez de imortal?



52- Quem disse que a expressão “reduzir a cinzas” em Ml 4,3, por exemplo, é mesmo prova de que Deus vai destruir completamente os maus? Não percebem o simbolismo da expressão? Não percebem a hipérbole (linguagem exagerada) aí presente? Se for literal esse “reduzir a cinzas”, então, é literal o “pisar” os ímpios? Então, Deus vai pisar literalmente os maus? E Deus tem pé? Não percebem que tudo isso é uma forma de Deus dizer que vai arruinar moralmente os maus? Que vai destruí-los, mas não levá-los à inexistência? Quantas vezes, por exemplo, não já dissemos que vamos destruir um time contrário, sem necessariamente significar que estamos aniquilando realmente aquele time? (Releiam a 15ª pergunta).



53- A palavra hebraica usada para descrever o perecimento dos ímpios no AT ('āvad) também é usada para descrever os justos perecendo (v. Is 57,1; Mq 7,2). Perguntamos: então, até os justos serão definitivamente aniquilados? Mais: Se “perder” no contexto bíblico significa mesmo aniquilamento, volta à inexistência, por que em Dt 22,3 tal palavra é usada para objeto perdido e depois encontrado? Encontra-se o que chegou à inexistência?



54- Vocês já experimentaram eliminar a pontuação e a conjunção “que” em Lc 23,43? Perceberam que nada se altera? Vejam: “Em verdade te digo hoje estarás comigo no Paraíso”. O que Jesus disse ao ladrão? “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Notaram que a frase só exige pontuação quando os mortalistas resolvem forçar uma mudança de sentido? Perceberam, portanto, que a vossa insistência na ausência de pontuação no original longe de vos favorecer, favorece a nossa concepção imortalista?



55- A doutrina do aniquilacionismo não leva o ser humano a portar-se de maneira displicente diante dos constantes apelos morais da Lei divina? Que ameaça pode haver num aniquilamento? Que criminoso se apavoraria diante de um castigo que, a rigor, não existe? Morreu, acabou-se, e os maus não servirão de exemplo nenhum como supôs São Pedro (2,6)? Que vantagem teriam os justos diante dos maus, se ambos morrem, acabam-se e simplesmente a única vantagem é os justos gozarem a vida eterna? Sinceramente, alguém desprovido de vida, de existência, sofrerá algum dano em estar fora da vida eterna? Não vejo desvantagem alguma para os maus diante dessa consoladora doutrina para eles. Se fosse verdade o aniquilacionismo, então, “comamos e bebamos”, pois desvantagem alguma teremos. Não veem que a doutrina aniquilacionista inutiliza as tantas ameaças divinas para os maus?



56- Por que os mortalistas vêm nos recordar que o texto original de Lc 23,43 não tem pontuação? Por acaso, eles não pontuam o texto em suas versões bíblicas? Por que toda essa contradição? Se eles pontuam, com que autoridade podem nos criticar por que pontuamos o texto?



57- Se os ímpios vão mesmo ser destruídos, por que a Santa Escritura diz que eles “sofrerão castigo eterno” (Mt 25,46)?


Professor Evaldo Gomes

Um diálogo para refletirmos

Certa vez, um evangélico fez o seguinte questionamento a um católico:
— Meu amigo, quem nos salvou na cruz?
— Jesus Cristo, respondeu-lhe o católico.
— Quem pagou nossas dívidas, derramando seu sangue: foi Maria ou Jesus?
— Jesus Cristo, respondeu o católico.
— Agora, meu caro, quem ama mais os pecadores: Jesus ou Maria?
— Jesus, — disse o católico.
— Se o pecador quer ser salvo ele precisa crer em algo ou em alguém além de Cristo?
— Não.
— Lembrai-vos de que Jesus disse aos pecadores: “Vinde a mim”?
— Sim, Ele o disse.
— Lembra que a Bíblia disse que o nome de Jesus está acima de todos os nomes?
— Sim, lembro, disse ainda o católico.
— Alguma vez a Escritura mudou de opinião quanto a essa verdade?
— Não.
— Então, meu amigo, — disse-lhe o evangélico, — se o nome de Jesus está acima de todos os nomes, logo ele está também acima do nome de Maria, não é?
— Está, disse o católico.
— Quem foi, pois, o mais poderoso para salvar os pecadores?
— Oh! Foi Jesus, claro!
— Agora, meu amigo, poderia apresentar-me pela Escritura que Jesus tenha perdido em algum momento ou transferido seu papel salvífico para Maria?
— Não, disse o católico.
— Concluiu, pois, o evangélico: se quem nos ama completamente é Jesus; se só Jesus pode nos salvar; se é o nome de Jesus que está acima de todos os nomes; se Jesus é o mais poderoso para salvar os pecadores, por que preciso, eu, crer em Maria? Por que preciso crer que ela inter-cede por nós? Por que preciso crer que ela é mãe de Deus? Ou por que preciso crer em qualquer outro dogma sobre ela? Não basta crer em Cristo e somente nele?
— É verdade. É por isso mesmo que eu também discordo da crença na existência do demônio. Embora a Igreja Católica ensine que exista essa pessoa espiritual que busca nos desviar do caminho de Deus, eu não creio nele, disse aquele católico.
— O evangélico, respondeu imediatamente: o que é isso, meu amigo? O demônio existe e você deve crer na existência dele. O inimigo quer isso mesmo. Ele quer que você não creia nele. É perigoso você não crer nele. E, então, o evangélico passou um enorme tempo buscando convencer aquele católico da crença na existência do demônio.
— Depois de tudo, então, o católico perguntou: — Mas quem nos salvou na cruz?
— Jesus, claro, disse o evangélico.
— Quem pagou nossas dívidas, derramando seu sangue: foi o demônio ou Jesus?— Perguntou ainda o católico.
— Jesus, é claro, respondeu o evangélico.
— Se o pecador quer ser salvo ele precisa crer em algo ou em alguém além de Cristo? — Perguntou novamente o católico.
— Não. Foi a resposta do evangélico.
— Você lembra que as Escrituras disseram que o nome de Jesus está acima de todos os nomes? — Indagou ainda o católico.
— Lembro, disse o evangélico.
— Alguma vez a Bíblia mudou de opinião quanto a essa verdade?
— Não.
— Então, meu irmão, — interrogou-lhe o católico, — se o nome de Jesus está acima de todos os nomes, logo ele está também acima do nome do demônio, não é?
— Claro. E como está, disse o evangélico.
— Agora, meu irmão, poderia apresentar-me pela Escritura que eu preciso crer no demônio para me salvar?
— Não, disse o evangélico.
— Concluiu, pois, o católico: se quem nos ama completamente é Jesus; se só Jesus pode nos salvar; se é o nome dEle que está acima de todos os nomes; se Ele é o mais poderoso para salvar os pecadores, por que eu preciso crer na existência do demônio? Por que você fez tanto esforço para me fazer crer na existência do demônio, se me basta crer em Cristo e somente nele? Por que para você, crer em Jesus significa rejeitarmos a Virgem Maria, mas não significa rejeitarmos a existência do demônio? Afinal, entre crer no demônio e nela, não é preferível crer nela? Se eu posso crer em Cristo sem negar a existência do diabo, e isso é verdade, por que terei que renegar as verdades a respeito da Virgem Maria?
Ficando sem resposta, o evangélico saiu de fininho.

Moral da história: Só Jesus nos basta, mas isso não significa que devamos rejeitar todas as verdades ligadas a sua pessoa.



Prof. Evaldo Gomes

O testemunho da Igreja primitiva depõe contra a Sola Scriptura

Uma outra prova incontestável de que a Sola Scriptura jamais foi usada pelos primeiros cristãos é a sua total ausência nos escritos dos Pais da Igreja. E o pior: a Sola Scriptura não só está ausente dos antigos escritores como também esses Pais contradizem totalmente essa doutrina.
Se a Sola Scriptura fosse verdadeira, ao verificarmos os escritos dos Pais da Igreja ali a acharíamos. No entanto, não achamos lá nada que insinue a doutrina. O que acharemos é eles defendendo a Fé baseando-se nas Escrituras e no ensino oral dos apóstolos, como também reconhecendo a autoridade interpretativa da Igreja, e isso logicamente depõe contra a Sola Scriptura. A Sola Scriptura exige SOMENTE a Escritura e nega a autoridade da Igreja e da Tradição. Percorramos, porém, os escritos dos antigos Pais e vejamos que testemunho quanto a isso eles nos deixam:
Recomendamos ao leitor que a cada testemunho patrístico lido se pergunte: diria isso tal pai da Igreja, se ele cresse que a Escritura é mesmo a única regra de fé?
São Clemente de Roma (+100) disse-nos: "Devido às repentinas e repetidas calamidades e desventuras que se têm abatido sobre nós, precisamos reconhecer que tardamos um pouco em voltar nossa atenção para os assuntos de disputas entre vocês, amados; e especial-mente a abominável e ímpia rebelião, alienígena e estrangeira aos eleitos de Deus, que umas pessoas temerárias e rebeldes inflamaram a tal loucura que o seu nome venerável e ilustre, digno de ser amado por todos os homens, têm sido difamado. " (Carta aos Coríntios, Palestra, 80 D.C).
Ainda na mesma carta, diz ele: "Se, porém, alguns não obedecerem ao que foi dito por nós, saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno" (Carta aos Coríntios 59,1).
Diz ainda o santo: "Aceitem o nosso conselho e não terão nada a lamentar." (Carta aos Coríntios 58,2).
Escreve ainda ele: “Sigamos a gloriosa e veneranda norma da nossa tradição.”
S. Clemente aqui explicitamente reconhece a Tradição e o Magistério da Igreja.
S. Inácio de Antioquia, martirizado no ano 107, conforme o historiador Eusébio de Cesaréia, "Advertia, antes de tudo, as igrejas das diversas cidades, que evitassem, sobre todas as coisas, as heresias que começavam então a se alastrar e exortava-as a se aterem tenaz-mente à Tradição dos Apóstolos" (Euséb., Hist. Eccles., 3, 36 / MG, 20, 287); "Antes exortei-vos a vos conservardes unânimes na doutrina de Deus, pois Jesus Cristo nossa vida insepar-vel, é a doutrina do Pai, como a doutrina de Jesus Cristo são os bispos constituídos nas dive-sas regiões da terra" (S. Inácio, in Ad Ephesios, 3-4).
"Onde quer que o Bispo apareça, deixe o povo estar; assim como onde quer que Jesus Cristo esteja, lá está a Igreja Católica." (Sto Inácio. Carta aos Cristãos de Esmirna 8,1).
"De maneira semelhante, que todos respeitem os diáconos como eles respeitariam Jesus Cristo, e assim como eles respeitam o Bispo como uma tipologia do Pai, e os presbíteros como o Concílio de Deus e o colégio dos apóstolos. Sem estes, não se pode chamar de uma Igreja." (Sto. Inácio. Carta aos Trallians 3,1).
Não há dúvida, nesses comentários Sto. Inácio aponta para a autoridade do Magistério eclesiástico e para a Tradição.
S. Policarpo de Esmirna, discípulo de S. João Evangelista (+156) chama a Tradição de “a palavra que nos foi transmitida desde o princípio.” (Filip. 7,2; cfr. 3,2; 4,2). No capítulo XI, na carta a Diogneto tem-se: ”Desde que me tornei discípulo dos apóstolos, sou doutor do povo. O que me foi transmitido, ofereço-o aos discípulos, que são dignos da verdade.”
Veja também o testemunho de Sto. Irineu de Lião (+202): "Quando são [os gnósticos] vencidos pelos argumentos tirados das Escrituras retorcem a acusação contra as próprias Escrituras, (...) E quando, por nossa vez, os levamos à Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas várias igrejas, pela sucessão dos presbíteros, então se opõem à tradição." (Contra as Heresias 2,1-2 Livro III).
Sto. Irineu também disse: "(...) Mas, quando os hereges acusam as Escrituras, como se as mesmas estivessem erradas, fossem desautorizadas, mutantes e como se nelas não pudessem encontrar qualquer verdade por aqueles que são ignorantes na Tradição... E, quando em desafio, nós lhes apontamos a mesma Tradição, que nos veio dos apóstolos, que é resguardada pela sucessão dos antigos nas igrejas, eles se opõem a esta Tradição, julgando-se mais sábios, não somente do que os antigos, mas, igualmente, do que os apóstolos." (Contra as Heresias)
"Sob Clemente, havendo nascido forte discórdia entre os irmãos de Corinto, a Igreja de Roma escreveu-lhes uma carta enérgica, exortando-os à paz, reparando-lhes a fé, e anunciando-lhes a Tradição que havia pouco tinham recebido dos apóstolos" (Contra as Heresias 3, c.3,n.3) ; "Aí está claro, a quantos querem ver a verdade, a tradição dos apóstolos, manifesta em toda a Igreja disseminada pelo mundo inteiro..."(Contra as heresias 3, 3, 1); "Não devemos buscar nos outros a verdade que é fácil receber da Igreja, pois os apóstolos a mãos cheias, versaram nela, como em riquíssimo depósito, toda a verdade... Este é o caminho da vida" (Idem, In Contra as heresias 3, 4, 1); "E se os apóstolos não nos houvessem deixado as Escrituras, não cumpria seguir a ordem da Tradição por eles ensinada a quem confiavam à sua Igreja? Esta norma é seguida por muitos povos bárbaros que creem em Cristo sem papel e sem tinta, enquanto possuem a mensagem da salvação, escrita em seu coração pelo Espírito Santo e ciosamente conservam a antiga Tradição." ( Idem, In contra as heresias 3, 4,1)
Santo Irineu na mesma obra escreveu: "Desde então, a mesma Tradição dos apóstolos existe na Igreja, e permanece conosco (...). “ (Contra as Heresias 3,5,1)
O mesmo Sto. Irineu ainda disse: "Portanto, a Tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta e toda igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Mas visto que seria coisa bastante longa elencar numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à Tradição da maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, que por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos." (Contra as Heresias, III,3,1-2). Grifos nossos.
Disse ainda o santo:"A mensagem da Igreja é, portanto, verídica e sólida, pois é nela que um único caminho de salvação aparece no mundo inteiro" (Contra as Heresias 5,20,1).
Aqui, Sto. Irineu não só reconhece a autoridade da Tradição dos apóstolos como testemunha a favor do Primado da Igreja de Roma.
Tertuliano de Cartago (+220) também afirmou: "A crença uniformemente professada por diversas comunidades não deriva do erro, mas da legítima Tradição". É dele ainda as palavras: "De nada vale as discussões das Escrituras. A heresia não aceita alguns de seus livros, e se os aceita, corrompe-lhes a integridade, adulterando-os com interpolações e mutilações ao sabor de suas ideias, e se, algumas vezes admitem a Escritura inteira, pervertem-lhe o sentido com interpretações fantásticas..." (Tertuliano séc 3 In De Praescriptionibus., c. 19 / ML, II,31). Na mesma obra, Tertuliano assevera que onde estiver a verdadeira Igreja, "aí se achará a verdade das Escrituras, da sua interpretação e de todas as tradições cristãs" (Idem, De Praescript., c. 19 ML, 2, 31).
"... Resta, pois, demonstrar que nossa doutrina, cuja regra formulamos acima, procede da tradição dos apóstolos e, por isso mesmo, as demais procedem da mentira. Nós estamos em comunhão com as igrejas apostólicas, se nossa doutrina não difere da sua: eis o sinal da verdade" (Tertuliano, Da Prescrição dos Hereges, XIII-XX).
S. Clemente de Alexandria (+215), dizia: "Mas ele, salvaguardando a verdadeira Tradi-ção dos ensinamentos abençoados, que nos vêm direto dos apóstolos Pedro, Tiago, João e Paulo e foram transmitidos de pai para filho, chegara até nós, com a ajuda de Deus para que em nós fossem depositadas as sementes destes apóstolos." (Stromata 1, 11). Grifos nossos.
"Para nós,... que crescemos com as Escrituras, que preservamos a correta doutrina dos apóstolos e da Igreja, que vivemos de acordo com o Evangelho, é nos permitido descobrir as provas da Lei e dos Profetas que eles tanto buscam." (Stromata, 7, 104). Grifos nossos.
Hipólito de Roma (+235) dizia: "Justamente por não observarem as Sagradas Escrituras e não guardarem a Tradição de algumas santas pessoas é que os hereges criaram essas [ímpias] doutrinas" (Refutação de Todas as Heresias 1, Prefácio).
Orígenes de Alexandria (+253) firma como princípio “que só se deve crer nas verdades ligadas às tradições eclesiástica e apostólica” (De princ. Prae., 2).
"Esta pedra é inacessível às serpentes, é ela é mais forte que os portões do inferno em oposição, é por causa disso que as forças dos portões do Hades não prevalecerão contra ela; mas a Igreja, como uma construção feita pelo próprio Cristo construindo sua morada, é incapaz de admitir que os portões do Hades prevaleçam sobre qualquer um que esteja fora desta pedra, mas não possui forças para tal" (Orígenes, Sobre Mateus,12,11).
Orígenes disse também: "Quando hereges nos mostram as Escrituras canônicas – nas quais o cristão crê e confia – parecem dizer: ‘Oh, ele está restrito’. Contudo, não cremos neles, nem abandonamos a Tradição original da Igreja, nem acreditamos em outras coisas que não nos foram trazidas pela sucessão existente na Igreja de Deus" (Homilia sobre Mateus 4,6).
S. Cipriano de Cartago (+258) também dizia: "Depois de tudo isto, eles ainda, tendo um falso bispo que hereges lhes ordenaram, atreveram-se a selar e carregar cartas de pessoas cismáticas e profanas para a Cátedra de Pedro (que é) a Igreja principal, de onde surge a unidade do pastoreio. Eles não refletiram que os romanos são os mesmos cuja fé foi louvada publicamente pelos apóstolos, e aos quais a descrença jamais terá acesso.” (Epist. 59,14). Grifos nossos.
“Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade recomendada por Paulo? (Ef 4,4-6). Confia estar na Igreja quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?" (S. Cipriano).
É de S. Cipriano ainda o seguinte: “A Esposa de Cristo não pode tornar-se adúltera, ela é incorruptível e casta [Cf Ef 5,24-31]. Conhece só uma casa, observa, com delicado pudor, a inviolabilidade de um só tálamo. É ela que nos guarda para Deus e torna partícipes do Reino os filhos que gerou. Aquele que, afastando-se da Igreja, vai juntar-se a uma adúltera, fica privado dos bens prometidos à Igreja. Quem abandona a Igreja de Cristo não chegará aos prêmios de Cristo. Torna-se estranho, torna-se profano, torna-se inimigo. Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja.” (Sobre a unidade da Igreja, cap. 4). Diria isso S. Cipriano se ele fosse solascripturista?
Lactâncio, convertido no ano 300, disse: “Só a Igreja Católica é que conserva o verdadeiro culto. Esta é a fonte da verdade; este o domicílio da fé, o templo de Deus, no qual se alguém não entrar, do qual se alguém sair, está privado da esperança de vida e salvação eterna” (livro 4º cap. 3º).
Veja o testemunho de Eusébio (+ ou – 317), Bispo de Cesareia e historiador da Igreja nos tempos primitivos: "[Os apóstolos] Anunciaram o reino dos céus a todo orbe habitado, sem a menor preocupação de escrever livros. Assim procediam porque lhes cabia prestar um ser-viço maior e sobrehumano. Até Paulo, o mais potente de todos na preparação dos discursos, o mais dotado relativamente aos conceitos, só transmitiu por escrito breves cartas, apesar de ter realidades inúmeras e inefáveis a contar [...] Outros seguidores de nosso Salvador, os primeiros apóstolos, os setenta discípulos e mil outros mais não eram inexperientes das mesmas realidades. Entretanto, dentre eles todos, somente Mateus e João deixaram memória dos entretenimentos do Salvador. E a Tradição refere que estes escreveram forçados pela necessidade. [...] Quanto a João [o apóstolo], diz-se que sempre utilizava o anúncio oral. Por fim, também ele pôs-se a escrever pelo seguinte motivo. Quando os três evangelhos precedentes já se haviam propagado entre todos os fiéis e chegaram até ele, recebeu-os, atestando sua veracidade. Somente careciam da história das primeiras ações de Cristo e do anúncio primordial da palavra. E trata-se de verdadeiro motivo." (História Eclesiástica Livro III, 24,3-7. Eusébio de Cesareia) Depois, Eusébio nos remete a uma imensa lista de autores e seus respectivos livros, pelos quais deixaram para a memória cristã a autêntica pregação apostólica.
"A Clemente [3º sucessor de São Pedro na Cáthedra de Roma] sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre, depois, em sexto lugar desde os apóstolos, foi estabelecido Xisto; logo, Telésforo, que prestou glorioso testemunho; em seguida, Higino; após este, Pio, e depois, Ani-ceto. Tendo sido Sotero o sucessor de Aniceto, agora detém o múnus espiscopal Eleutério, que ocupa o duodécimo lugar na sucessão apostólica. Em idêntica ordem e idêntico ensinamento na Igreja, a tradição proveniente dos apóstolos e o anúncio da verdade chegaram até nós." (História Eclesiástica Livro V, 6,4-5. Eusébio de Cesareia).
Veja a observação de Eusébio quanto à degeneração doutrinária das seitas: "Extinguiram-se, pois rapidamente as maquinações dos inimigos, confundidas pela atuação da Verdade. As heresias, uma após outras, apresentavam inovações; as mais antigas continuamente desvaneciam e desvirtuavam-se, de difrentes modos, para dar lugar a idéias diversas e variadas. Ao invés, ia aumetando e crescendo o brilho da única verdadeira Igreja católica, sempre com a mesma identidade, e irradiando sobre gregos e bárbaros o que há de respeitável, puro, livre, sábio, casto em sua divina conduta e filosofia. [...] Além do mais, na época de que tratamos, a verdade podia apresentar numerosos defensores, em luta contra as heresias ateias, não somente através de refutações orais, mas também por meio de demonstrações escritas." (História Eclesiástica Livro IV, 7,13.15. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
S.Gregório de Nissa (+340) testemunhava: "Se um problema é desproporcional ao nosso raciocínio, o nosso dever é permanecer bem firmes e irremovíveis na Tradição que recebemos dos Padres" (- Quod non sint tres dii, MG 45,117).
Veja o que Santo Atanásio de Alexandria (+373) ensinava: "Mas nossa fé é correta, começando com o ensinamento do apóstolos e Tradição dos padres, sendo confirmada por ambos os Testamentos." (Epis 60). Grifos nossos.
Esse grande Padre da Igreja ainda dizia: "Mas depois do demônio, e com ele, vêm todos os que inventam heresias ilegais, que muito embora se refiram à Escritura, não mantém as mesmas opiniões que os Santos transmitiram, e, não as conhecendo nem ao seu poder, recebem tradições de homens caindo em erro." (Festal Letter 2)
"Estamos de acordo com o fato de que este não é o ensinamento da Igreja Católica, nem os pais o sustentam". (S. Atanásio, A Epicleto, Epístola 59,3).
Como se vê Santo Atanásio não só conservava a Tradição como também cria no Magistério da Igreja. Dizia ele ainda: "A confissão chegada a Nicéia era, afirmamos, mais suficiente e bastante a si mesma para a subversão de toda heresia contrária à religião, e para a segurança e desenvolvimento da doutrina de Cristo." (Ad Afros 1) "Mas a Palavra de Deus que veio através do Sínodo Ecumênico de Nicéia, permanece para sempre". (Ad Afros 2) "Eles não cometem um crime ao pensar que podem contradizer Concílio tão grande e universal?" (De decretis 4) E como sabemos, o referido Concílio professava: "Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".
Veja isto ainda: "Mas o que também é importante, deixe-nos notar que a própria Tradi-ção, ensinamento e fé da Igreja Católica desde o começo, que foi dada pelo Senhor, foi pregada pelos apóstolos e preservada pelos Pais. Nisso foi fundada a Igreja; se alguém se afasta disso, ele não é e nem deveria mais ser chamado Cristão." (Santo Atanásio, Cartas a Serapião de Thmuis, 1,28-).
Veja agora S. Basílio de Cesareia (+380): "Meta comum de todos os adversários, inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo, arrasando, fazendo desaparecer a Tradição apostólica. Por isso, eles, aparentando ser detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os testemunhos orais dos Padres." (Tratado sobre o Espírito Santo, Cap 25).
Disse ainda o santo: "Um dia inteiro não nos bastaria se quiséssemos expor os mistérios da Igreja que não constam das Escrituras. Deixando de lado tudo mais, pergunto de quais passagens retiramos a profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Se a extraímos da tradição batismal, de acordo com a piedade (pois devemos crer segundo a maneira como fomos batizados), para entregarmos uma profissão batismal, essencial ao batismo, consequentemente nos seja permitido também glorificar conforme nossa fé. Mas, se esta forma de dar glória nos é recusada, por não constar das Escrituras, sejam-nos mostradas provas escritas da profissão de fé e de todo o restante, que enumeramos. Desde que há tantas coisas que não foram escritas, e coisas tão importantes para o mistério da piedade, ser-nos-á recusada uma só palavra, proveniente dos Pais, que nós vemos persistir por um uso espontâneo nas Igrejas isentas de desvios, uma palavra muito razoável, e que muito contribui para a força do mistério?" (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 67.).
Diz ele ainda: “Entre as verdades conservadas e anunciadas na Igreja, umas nós as recebemos por escrito e outras nos foram transmitidas nos mistérios, pela Tradição apostólica. Ambas as formas são igualmente válidas relativamente à piedade. Ninguém que tiver, por pouco que seja, experiência das instituições eclesiásticas, há de contradizer. De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não escritos, como desprovidos de maior valor, prejudicaríamos imperceptivelmente o evangelho, em questões essenciais. Antes, transformaríamos o anúncio em palavras ocas." (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 66.).
Nos dois escritos Contra Eunômio (1,1-3) e Sobre o Espírito Santo (29, 71), diz outra vez o santo: “Considero apostólica a firme adesão às tradições que não estão contidas na Escritura” (Cfr. 27,66; Migne, 32,188).
Sto Ambrósio de Milão (+397) afirmava: "Mas, se eles não acreditam na Doutrina dos Padres, que acreditem nos oráculos de Cristo, nas admoestações dos anjos que dizem ‘para Deus nada é impossível’. Que acreditem no Credo apostólico que a Igreja de Roma sempre manteve intacto."
"Ao despontar do dia que fora escolhido para a disputa com Simão [Mago], Pedro [Apóstolo], levantando-se aos primeiros cantos do galo, despertou também a nós; todos juntos, éramos treze a dormir no mesmo aposento. [...] À luz da candeia [...] sentamo-nos todos. Pedro, vendo-nos alertas e bem atentos, saudou-nos e começou seu discurso: 'É surpreendente, irmãos, a elasticidade de nossa natureza, a qual me parece ser adaptável e maleável a tudo. Digo-o apelando para o eu mesmo tenho experimentado. Logo depois da meia-noite, costumo acordar espontaneamente e não consigo voltar a dormir. Isto me acontece porque me habituei a evocar em minha memória as palavras que ouvi de meu Senhor Jesus Cristo. Desejo de as revolver no espírito, incito o meu ânimo e a minha mente a se despertarem, a fim de que, em estado de vigília, recorde cada palavra de Jesus em particular e as guarde todas ordenadamente na memória. Já que desejo com profundo deleite meditar no meu coração as palavras do Senhor, adquiri o hábito de ficar em vigília, mesmo que nada, fora deste intento, me preocupe o espírito" (Pseudo-Clemente, século III, Recognitiones II,1).
São João Crisóstomo (354-407): também expressava: "Dessa forma, irmãos, fiquem firmes e guardem as tradições que lhes foram ensinadas, seja por palavra ou por carta. Isso deixa claro que eles não transmitiram tudo por carta, mas que havia muita coisa também que não foi escrita. Como a que foi escrita, a não escrita também é digna de crédito. Então vamos considerar a tradição da Igreja como sendo digna de crédito. Isto é uma tradição? Não procure outra coisa." (Homilias sobre a 2ª Epístola aos Tessalonicenses 4,2).
Dizia ainda o santo: "Não te afaste da Igreja: nada é mais forte que ela. Ela é a tua esperança, o teu refúgio. Ela é mais alta que o céu e mais vasta que a terra. Ela nunca envelhece".
S. Epifânio de Salamina (+403) apresenta a Tradição como um complemento da Bíblia: “Também a Tradição é necessária, pois que nem tudo se pode tirar da Escritura; os apóstolos deixaram-nos uma parte de seu ensinamento nas Escrituras, os demais acha-se nas tradições” (Haer. 41,6; Migne, 41, 1047).
S. Epifânio falou também: "A Igreja deve guardar este costume, recebido como tradição dos Pais. E quem haverá de suprimir o mandato da mãe ou a lei do pai? Conforme o que diz Salomão, 'tu, filho meu, escuta as correções de teu pai e não rejeites as advertências da tua mãe'. Com isto, se ensina que o Pai, o Deus unigênito e o Espírito Santo, tanto por escrito como sem escritura, nos deram doutrinas, e que nossa Mãe, a Igreja, nos legou preceitos, os quais sãos indissolúveis e definitivos" (Haer. 75,8).
S. Jerônimo (+420) também dissera: "Você quer uma prova da Escritura? Poderá encontrar nos Atos dos Apóstolos. E se não restar provado com a autoridade da Escritura, o consenso de todo o mundo (=isto é, da Igreja Católica) sobre esse assunto serve como força de comando" (Diálogo com os Luciferanos 8).
Veja o que dizia Sto. Agostinho de Hipona (+433): “Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja católica.” (Contra a Carta de Mani 5,6) Obviamente isso é o mesmo que dizer: "Creio na Bíblia porque a Igreja me manda crer".
"Mas com relação àquelas observâncias que seguimos cuidadosamente e que o mundo todo mantém, e que não vêm da Escritura, mas da Tradição, é-nos concedido compreender que foi ordenado e recomendado que a guardássemos seja pelos próprios apóstolos, seja pelos Concílios plenários, a autoridade que é tão vital para a Igreja." (Carta de Agostinho para Januário 54,1,1, 400 D.C).
"Acredito que esta prática venha da tradição apostólica, assim como tantas outras práticas não encontradas nos escritos deles nem nos concílios de seus sucessores, mas que, porque são observadas por toda a Igreja em todos os lugares, acredita-se que tenham sido confiadas e concedidas pelos próprios apóstolos." (Sto. Agostinho, Batismo 1,12,20, 400 D.C.)
"Eles guardaram o que encontraram na Igreja; o que lhes foi ensinado, ensinaram; o que receberam dos pais, transmitiram aos filhos." (Santo Agostinho, Contra Juliano, 2,10,33, 421 D.C).
"Assim pelo favor de Cristo somos Cristãos católicos:" (Santo Agostinho, Carta a Vitalis, 217,5,16, 427 D.C.).
"Vocês nasceram pela mesma palavra, pelo mesmo Sacramento, mas não obterão a mesma herança de vida eterna, a menos que retornem para a Igreja Católica." (S. Agostinho, Sermões, 3, 391 D.C).
"Esta Igreja é santa, a única Igreja, a verdadeira Igreja, a Igreja Católica, lutando como o faz contra todas as heresias. Ela pode lutar, mas não pode ser vencida. Todas as heresias são expelidas dela, como galhos inúteis são podados de uma vinha. Ela permanece fixa à sua raiz, em sua vinha, em seu amor. As portas do inferno não a conquistarão." (S. Agostinho, Ser-mão aos Catecúmenos sobre o Credo, 6,14, 395 D.C).
“Um homem Cristão, é Católico enquanto vive no Corpo, separado é um herético, o Espirito não segue a um membro amputado." (Santo Agostinho)
Dizia ainda o santo: “Deve ser seguida por nós aquela reigião cristã, a comunhão daquela Igreja que é CATÓLICA, e Católica é chamada não só pelos seus, mas também por todos os inimigos.” (Verdadeira Religião c. 7; n 12).
"É óbvio que se a fé permite e a Igreja Católica aprova, então deve ser crido como verdade" (Santo Agostinho, Sermão 117,6).
"Roma locuta, causa finita est", ou seja, “Roma falou, acabou-se a questão”. (S. Agostinho, Sermão 131,10).
S. Vicente de Lerins, (+450) "Perguntando eu com toda a atenção e diligência a numerosos varões, eminentes em santidade e doutrina, que norma poderia achar segura, enquanto possível genérica e regular, para distinguir a verdade da fé católica da falsidade da heresia, eis a resposta constante de todos eles: quem quiser descobrir as fraudes dos hereges nascentes, evitar seus laços e permanecer sadio e íntegro na sadia fé, há de resguardá-la, sob o auxílio divino, duplamente: com a autoridade da Lei Divina e com a Tradição da Igreja Católica. Sem embargo, alguém poderia objetar: Posto que o Cânon das Escrituras é em si mais que suficientemente perfeito para tudo, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja? Precisamente porque a Escritura, por causa de sua mesma sublimidade, não é entendida por todos de modo idêntico e universal. De fato, as mesmas palavras são interpretadas de maneira diferente por uns e por outros. Se pode dizer que tantas são as interpretações quantos são os leitores. Vemos, por exemplo, que Novaciano explica a Escritura de um modo , Sabélio de outro, Donato, Eunomio, Macedônio, de outro; e de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinar, Prisciliano, Joviano, Pelágio, Celestino, e em nossos dias, Nestório. É pois, sumamente necessário, ante as múltiplas e arrevesadas tortuosidades do erro, que a interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça seguindo a pauta do sentir católico. Na Igreja Católica deve-se ter maior cuidado para manter aquilo em que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Isto é verdadeira e propriamente católico, segundo a ideia de universalidade que se encerra na mesma etimologia da palavra. Mas isto se conseguirá se nós seguimos a universalidade, a antiguidade e o consenso geral. Seguiremos a universalidade se confessamos como verdadeira e única fé a que a Igreja inteira professa em todo o mundo; a antiguidade, se não nos separamos de nenhuma forma dos sentimentos que notoriamente proclamaram nossos santos predecessores e pais; o consenso geral, por último, se, nesta mesma antiguidade, abraçamos as definições e as doutrinas de todos, ou de quase todos, os Bispos e Mestres." (Commonitorium).
S.João Damasceno (+749) assim se expressou: "Se alguém se apresentar com um Evangelho diferente daquele que a Igreja Católica recebeu dos Santos Apóstolos, dos Padres e dos Concílios, e que ela conservou até aos nossos dias, não o escuteis" (Discurso sobre as Imagens 3,3).
Tudo isso já basta para demonstrarmos que os primeiros cristãos sempre acataram realmente a autoridade da Igreja e da Tradição. Do contrário, as afirmações atrás citadas não seriam feitas.
Outra prova incontestável de que a Igreja primitiva não acreditava na Sola Scriptura é que os credos primitivos sempre dizem: "Creio na Santa Igreja Católica" e não simplesmente "Creio na Santa Escritura". Além disso, o fato de os primeiros bispos da Igreja redigirem Cartas Apostólicas constitui outra incontestável prova de que eles não acreditavam na Sola Scriptura, pois senão ficariam apegados tão somente à Escritura. Além disso, se a Sola Scritptura é verdadeiramente uma doutrina apostólica, porque não é aceita pelos Cristãos Coptas do Egito (que se separaram da Igreja Católica há quase 1500 anos) e pelos cristãos Ortodoxos (que se separaram da Igreja Católica há quase 1000 anos)? Se, conforme os solascripturistas, a Tradição só foi validada pela Igreja no século XVI, por que, então, essas Igrejas que se separaram da Igreja Católica muito antes desse século, também a conservam como regra de fé? É impossível que eles tenham se dobrado a uma decisão da Igreja Romana. Não acha?
Como se vê, a Sola Scriptura está longe de ter sido uma doutrina de fé dos apóstolos. Ela estava totalmente ausente nos primórdios do Cristianismo. É uma criação recente e, portanto, alheia a fé dos pimeiros cristãos.
Além dos escritos patrísticos a respeito veja também testemunhos de alguns próprios evangélicos sobre o assunto:
Heiko Oberman, historiador protestante, afirma: “Em relação à Igreja pré-augustiniana, há recentemente uma tendência convergente entre os estudiosos da Bíblia de que a Escritura e a Tradição na Igreja Primitiva não eram excludentes: kerygma, Escritura e Tradição coincidiam perfeitamente.
A Tradição não deve ser entendida como uma adição ao kerygma, mas como a sua pregação de forma viva: em outras palavras, tudo que é encontrado na Sagrada Escritura está presente na Tradição.
Ela está presente no corpo visível de Cristo, inspirado e vivificado pela obra do Espírito Santo... A Escritura e a Tradição derivam de uma única fonte: a Palavra de Deus. Somente na Igreja este kerygma pode ser transmitido sem falhas...” (The Harvest of Medieval Theology, Grand Rapi-ds, MI: Eerdmans, rev. ed., 1967, 366-367)
Jaroslav Pelikan, historiador luterano, afirma: “Claramente há um anacronismo em su-por que as discussões dos séculos 2 e 3 derivam das controvérsias do século 16 em relação à Escritura e Tradição, pois ‘na Igreja ante-nicena não havia a noção de Sola Scriptura, como também não havia a Sola Traditio.’[1]
A Tradição apostólica era pública... tão palpável que mesmo se os apóstolos não estivessem com a Escritura em mãos para demonstrar uma norma de suas doutrinas, a igreja ainda assim seguiria ‘a estrutura da tradição que eles traziam a quem confiaram às igrejas’[2]. Isto foi, de fato, o que a igreja fez nos territórios bárbaros onde o material escrito não era disponível aos ouvintes, conservando o conteúdo da fé transmitida pelos apóstolos e sumarizada no credo...
O termo “regra de fé” ou “regra de verdade”... parece algumas vezes ter pertencido à Tradição, outras à Escritura, outras à mensagem do Evangelho...
Na Reforma... os advogados da autoridade final das Escrituras ignoraram a função da Tradição em conservar o que se conhecia como correta exegese das Escrituras contras as alternativas heréticas.” (The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine: Vol. 1 of 5: The Emergence of the Catholic Tradition (100-600), Chicago: Univ. of Chicago Press, 1971, 115-117, 119; citações: [1]. In Cushman, Robert E. & Egil Grislis, eds., The Heritage of Christian Thought: Essays in Honor of Robert Lowry Calhoun, New York: 1965, citado em Albert Outler, "The Sense of Tradition in the Ante-Nicene Church," 29. [2]. St. Irineu, Contra as Heresias, 3:4:1).
Edwin Tait, anglicano, escreveu: “Com certeza os Padres ensinaram que podiam provar suas conclusões a partir da Bíblia. Também ensinaram que a comunhão dos bispos sucessores dos apóstolos, reunidos em Concílio (com Roma tendo algum papel, o qual não pretendo abordar aqui), seriam os responsáveis pela correta interpretação da Bíblia. Todo este debate sobre a Sola Scriptura somente se tornou realidade quando um número considerável de cristãos começaram a afirmar que os bispos reunidos em Concílio haviam errado na interpretação bíblica durante vários séculos. Ambos os lados podem recorrer aos Pais, porque os Pais nunca ensinaram sobre a suficiência bíblica e a autoridade da Igreja/Tradição em discordância.”
É lógico que algumas expressões dos Pais da Igreja que parecem favorecer a Sola Scriptura precisam ser lidos à luz de tudo o que até agora foi exposto sobre os dizeres deles. Não é por falarem da Escritura como autoridade de fé que vamos concluir que eles defendiam a exclusividade dessa mesma Escritura. Uma coisa não implica outra. É impossível alguém ser solascripturista, se reconhece a autoridade da Tradição e do Magistério da Igreja. E isso ficou claríssimo nas próprias afirmações deles. Os Pais da Igreja acatavam apenas a suficiência material das Escrituras, não a formal, que como vimos, exclui a Tradição e a Igreja. Logo, fica evidente que o entendimento dos Santos padres difere totalmente do conceito reformista sobre essa suficiência das Escrituras. Sola Scriptura implica em negar a autoridade da Igreja e da Tradição e não foi isso, como vimos, que os padres ensinaram.


Professor Evaldo Gomes