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sábado, 9 de outubro de 2010

Fé, obras e certeza da salvação

Alegam os protestantes que a fé é uma apropriação pessoal dos méritos de Cristo, confiando na Redenção por Ele operada, mais do que um ato do intelecto movido pela vontade iluminada pela graça em adesão a uma doutrina. Essa apropriação, claro, notadamente na tradição calvinista (e também na luterana) é ação da graça. Ainda assim, a graça moveria a alma a esse ato de apropriação, que se enquadra melhor no conceito de esperança do que no de fé, e não uma ação intelectual (igualmente produto da graça) de aceitação da verdade revelada, como crêem os católicos.
Pregam, outrossim, que conseqüência obrigatória da fé (e como que um sinal de que é uma fé verdadeira, ou salvífica, como dizem) é ter certeza da própria salvação. Note-se: não a certeza de que Cristo salva ou de que pode me salvar de fato (pois isto é o conteúdo da fé em sentido católico e, em decorrência dela, da esperança), mas a certeza de que o crente está salvo: eu, que creio, estou salvo - é o ensino protestante.
Ora, não há como ter certeza da salvação. Vê-se, pois, que, apesar de elementos de verdade - que são sementes católicas no meio do erro -, o calvinismo é um sistema que gira em torno de seus próprios pressupostos e, para justificar algumas doutrinas, cria outras. Uma delas é a tal certeza da salvação, que não encontra eco em nenhum dos Padres da Igreja, a quem tanto invocam para, de modo distorcido, alegar autoridade para seu movimento de separação da Sé de Pedro.
Não temos certeza da salvação (porque nem presumimos de nossos próprios méritos como fariam os pelagianos, nem presumimos da graça de Deus como se não fôssemos livres para resistir a ela). Tampouco, caímos em desespero. O que temos é a virtude teologal da esperança. Esperamos que Deus nos dê a graça e que corresponderemos a ela.
A tese da certeza da salvação, aliás, é fruto de um equivocado entendimento da virtude da esperança. Ela como que substitui, na teologia protestante, a noção de esperança. E isso por um motivo muito simples: para Lutero, a fé é uma confiança no sacrifício de Cristo, e não uma adesão do intelecto, movido pela vontade e iluminado pela graça, à Revelação de Deus em Cristo. Lutero, pois, confunde a fé com a esperança. Mais, chama de fé aquilo que, propriamente, é mais próprio da esperança. A esperança, então, fica vazia, e é preciso procurar um outro conteúdo para ela. Acha-se a "certeza da salvação".
Não, não tenho certeza da salvação. Não porque duvide da graça, mas porque sei que sou fraco e posso, a qualquer momento, cair da graça por decisão pessoal. Tampouco me desespero, achando que Deus não perdoará ou salvará, ou que inevitavelemente irei cair. Tenho, isso sim, duas atitudes, na verdade duas virtudes (todos temos pelo Batismo): a fé e a esperança (claro, e a caridade). Pela fé, creio firmemente que Cristo morreu por mim, que Seu sacrifício foi suficiente para a minha salvação, que Ele me dá a Sua graça para querer a salvação e que, se perseverar, terei a justificação. Isso a fé. Pela esperança, outrossim, confio que Deus não me abandonará e me dará a graça final. Não tenho certeza, apenas confio, espero (no sentido da virtude de esperar, não o esperar no entendimento popular). Se eu me mantiver fiel, minha confiança se transformará, no céu, em realidade. E por isso é que São Paulo nos diz que a esperança cessará, como a fé, permanecendo apenas a caridade: no céu não há lugar para esperança, pois só se espera o que não se tem. Se a esperança fosse certeza da salvação, como sustentam os protestantes, então, no céu ela continuaria (porque a certeza da salvação haverá no céu, aliás, é só ali que haverá), e a Bíblia estaria errada.
Temos fé na salvação no sentido objetivo (Cristo nos salvou a todos, morrendo na Cruz), e esperança na salvação no sentido subjetivo (aproprio-me pela fé e pelos sacramentos dessa salvação).
"Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus." (Rm 5,2)
A verdadeira fé é necessária para a salvação, evidentemente. "Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado." (Mc 16,16) "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram." (Hb 11,6)
Todavia, conforme o ensino de São Tiago (cf. Tg 2,14.17.20), a fé sem obras é morta, não é capaz de justificar. "Se invocais como Pai aquele que, sem distinção de pessoas, julga cada um segundo as suas obras, vivei com temor durante o tempo da vossa peregrinação." (I Pe 1,17) Isso porque a justificação, ao contrário do que sustentam os protestantes, não é uma operação automática pela qual Deus, judicialmente, nos declara santos, e sim um processo lento e gradual, em que o Espírito Santo nos torna, de fato santos e justificados. A graça divina não é uma capa a cobrir os nossos pecados, mas uma ação eficaz na alma que a transforma de verdade. Deus não poderia declarar alguém justificado que permanecesse pecador, com a graça apenas cobrindo suas iniqüidades. A justificação forense, jurídica, judicial - tese fundamental dos protestantes - é totalmente contrária ao correto entendimento do Deus que é verdade. O juízo divino é sempre de acordo com a realidade das coisas. Ninguém pode ser declarado justo sem sê-lo realmente, de modo que se o Senhor justifica um pecador é necessário que ele tenha sido, pelo mesmo Senhor, já justificado. A justificação não é um cobrir com a graça os pecados, mas um perdoar de fato os pecados - pela graça, claro. Deus não só finge, por amor, que o homem é justo, mas torna-o justo, apaga os pecados. Se assim não fosse, Deus estaria declarando justo quem não é, quem continua ímpio. O homem não pode ser, como erroneamente ensinava Lutero, simul justus et peccator, dado que na Escritura não se encontra um trecho sequer em que o ser humano justificado é chamado pecador. Deus não dá uma aparência de justificação, uma justificação meramente judiciária, mas justifica de verdade: "O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades." (Is 53,11) O Senhor não quis, em Cristo, que fôssemos somente considerados justos, mas nos outorgou a graça, removidos os pecados pela imputação dos méritos de Cristo, "para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus." (II Co 5,21) Note-se: nos tornamos, pela graça, justiça de Deus, não somente somos considerados como justiça. E tornar-se implica uma realidade e um processo. Processo esse que se depreende do ensino de São Paulo: "trabalhai na vossa salvação com temor e tremor." (Fl 2,12) Se a justificação fosse um ato instantâneo e não um processo, não precisaria ser trabalhada, muito menos com temor e tremor. Também é o ensino de São João: "Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa." (Ap 3,11) Ora, ninguém seria exortado a conservar o que tem se fosse impossível perdê-lo (conseqüência lógica da justificação automática; "uma vez salvos, salvos para sempre", é o mote calvinista).
Como se trata de um processo, não podemos ter certeza da salvação, dado que o processo só termina com o último suspiro do homem sobre a terra. O homem, em um momento está em graça, e noutro pode cair. "É pela incredulidade que foram cortados, ao passo que tu é pela fé que estás firme. Não te ensoberbeças, antes teme. Se Deus não poupou os ramos naturais, bem poderá não poupar a ti. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, bondade para contigo, suposto que permaneças fiel a essa bondade; do contrário, também tu serás cortada." (Rm 11,20b-22) "Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia." (I Co 10,12) Aliás, o crente nem pode ter certeza absoluta de estar em graça. Pode, por sinais objetivos (sua fé, suas obras, sua sinceridade na relação com o Pai), esperar que esteja. "De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o Senhor." (I Co 4,4)

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