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domingo, 2 de outubro de 2011

Bíblia e cronologia

O fator cronológico não está presente na Bíblia de uma forma linear. Assim, muitas histórias que aparecem no início da Bíblia são, de fato, mais recentes do que se pode pensar. A história de Caim e Abel, por exemplo, supõe um tempo em que os homens já estavam espalhados na terra, para que pudesse haver perseguição a ele. O dilúvio, a torre de Babel e outras estão nesta linha, pois supõem a existência de muitas pessoas e lugares. Por que juntar estes relatos fantasiosos à história verdadeira? Têm algum valor esta apelação para fatos que não aconteceram, a fim de completar a história?
A história da salvação, mais do que uma história propriamente dita, é uma interpretação da história humana. O fato em si, na história da salvação, não é tão importante quanto a interpretação do fato, a mensagem que se pode tirar dele: ele pode ser o paradigma de uma intervenção de Deus num fato real. Não importa, por exemplo, como foi criado o mundo (monogenismo, poligenismo, em sete dias, diretamente ou não, …) o que importa é que foi criado por Deus. O pecado original também não importa como aconteceu; mas que aconteceu. Caim e Abel não se sabe onde viveram nem se viveram mesmo, mas esta história representa um modo histórico de agir do homem. Abraão com Isaac, Jacó com Labão… não importa que tenham ou não acontecido, mas importa a interpretação destes fatos, de como Deus intervém em favor de seus amados.
Entre os capítulos IV e V, assim como entre os cap. X e XI do gênesis, há genealogias de Adão a Noé e de Noé a Abraão, respectivamente. O que isto significa? Qual a intenção do escritor sagrado? Estas genealogias foram intercaladas aí com o intuito de fazer a ligação, estabelecer a seqüência dos fatos. Elas, provavelmente, não são autênticas. Podem até ter sido transcritas de livros de genealogias dos reis da Babilônia (ante e pós diluvianos). A própria história do dilúvio mostra, assim, um progressivo distanciamento dos homens de Deus, preparando a chegada dos patriarcas.

HISTÓRIA DOS PATRIARCAS

A formação literária da história dos Patriarcas foi composta a partir de várias sagas e lendas muito antigas, algumas até anteriores à sua chegada a Canaã. Outras são etiológicas e contemporâneas a ele. Os compiladores uniram estas tradições, muitas vezes sem cuidar de verificar a sua ordem cronológica. Como se pode interpretar isto com a luz da fé? Não se trata de acreditar em tudo nos mínimos detalhes, mas procurar o seu significado para a História da Salvação.
Em Gen 11, 27, diz: “O pai de Abraão saiu da cidade com a família”. Por que isto? Historicamente, sabe-se que havia muitas migrações naquela época, por causa de seca, de perseguições políticas… Em Gen 12, l, diz: “Abraão saiu com a família;”… não fala mais no pai. Por que esta omissão? Na verdade, trata-se de duas tradições, uma explicando a outra. Esta ‘saída’ deve ser entendida como parte de um plano de Deus que o dirige desde o começo. O caso de Deus estar contatando constantemente com Abraão é mais uma linguagem mítica, visualizando o desígnio de Deus para Abraão.
Aquelas histórias a respeito de Abraão, que sempre vence em várias situações, também têm a finalidade de mostrar a sagacidade e a sabedoria do antepassado, o que, naturalmente era uma glória para a família. Na seqüência da tradição, vai mostrar que Deus escolheu Abraão por espontânea vontade e o autor faz questão de dizer que ele foi o eleito, citando isto várias vezes. Abraão é apresentado como homem de fé em várias ocasiões (saída da terra, sacrifício de Isaac…).
Aliás, a propósito do sacrifício de Isaac, isto é uma saga para protestar contra os sacrifícios humanos, cerimônias muito praticadas pelos povos vizinhos. O primogênito de tudo poderia ser sacrificado, menos do homem, que deveria ser substituído. A circuncisão era também um rito pré-israelita, talvez um rito de iniciação ao matrimônio. Israel adotou este rito e aos poucos ele se tornou religioso. A história que há na Bíblia é uma interpretação ou legenda interpretativa do autor sobre o fato.
Nas várias legendas e sagas da história de Abraão, os autores queriam demonstrar o desígnio de Deus na história, a interpretação que eles querem dar a estes fatos. Realmente, se sabe, pelas descobertas arqueológicas recentes, que o texto se refere a termos, costumes, nomes, objetos usados na época dos patriarcas, mais ou menos contemporâneos à época de Hamurabi. Vários filósofos racionalistas do século passado tentaram negar isto. Mas o importante sempre não é o fato, e sim a interpretação dele: Deus esteve sempre com Abraão e tudo que acontecia com ele era o plano de Deus, já com uma finalidade determinada em vista.
Na história dos patriarcas, Isaac não é tão importante. Apenas a transição de Abraão para Jacó. Abraão foi o “fiel”, Jacó, o “predestinado”. As histórias a respeito dele e Esaú são apenas para mostrar a sagacidade do irmão mais novo. O prato de lentilhas seria uma explicação popular para o fato de Jacó ser o herdeiro. O sonho de Jacó é uma saga antiquíssima. “EL”, como nome de Deus é uma das designações mais antigas usadas pelos cananeus. O autor refere-se a Javé com este mesmo título.
Qual o ensinamento da história dos patriarcas? Cada pessoa lê e interpreta esta história conforme o espírito de sua época e a aplica conforme a situação. Assim, se considerou Abraão como homem de fé e exemplo para eles. Como Abraão foi provado, também eles serão. Para nós ainda hoje caminhamos na esperança das promessas feitas a Abraão. Para Israel, as promessas se referiam ao Messias. Mas após JC abriu-se uma nova perspectiva. Nas ocasiões mais difíceis, os israelitas liam estas demonstrações de fé dos patriarcas e com isto tinham mais forças para superar as dificuldades. Assim também nós. E o mesmo se diga dos outros patriarcas.

FONTE ELETRÔNICA:

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