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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Religião ou negócio?

No Brasil, a Constituição garante liberdade de religião. Ainda bem. Estados totalitários costumam proibir completamente instituições e práticas religiosas. Estados teocráticos oprimem todas as demais religiões, exceto a oficial.

Nosso País, sob este aspecto, se insere no rol das democracias onde, além da liberdade de culto, ficou estabelecido a separação entre a Igreja e o Estado. A história do Brasil passa distante de conflitos religiosos nos quais os interesses do Estado e da Igreja oficial se confundem, resultando em perseguições e mortes, tal como acontece atualmente em muitos países islâmicos.

O totalitarismo de esquerda, se apoiando numa tese de Marx, segundo a qual “a religião é o ópio do povo”, proibiu – como ainda acontece na Coréia do Norte e em Cuba – quaisquer manifestações religiosas, perseguindo e reprimindo com violência os recalcitrantes. O culto a Deus deu lugar ao culto ao Estado e os santos foram substituídos pelos heróis da pátria e líderes políticos. Por isso, a defesa intransigente da liberdade religiosa antes de tudo representa a defesa da própria democracia.

Isto não significa que as instituições religiosas devam permanecer isentas de críticas quando extrapolam o seu papel religioso e assumem contornos políticos, econômicos ou criminosos. É o que vem ocorrendo no Brasil com um grupo significativo de denominações religiosas, a maioria delas seitas evangélicas pentecostais, que se aproveitam da fé, da carência emocional e da ingenuidade das pessoas e passam a determinadas práticas, digamos, pouco cristãs.

Ancorados numa leitura talvez um tanto apressada de Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564), iniciadores do protestantismo, a partir da década de 1970 as seitas pentecostais cresceram e se multiplicaram numa velocidade espantosa, arrebanhando milhões de pessoas que não encontravam mais na religião católica a satisfação para as suas carências físicas, materiais e espirituais.

Em Martinho Lutero e na sua defesa da “livre interpretação de Bíblia” encontraram guarida para a multiplicação de seitas e denominações.

Em João Calvino e na sua tese de que “a riqueza material de cada indivíduo é a prova da benevolência de Deus”, encontraram a justificativa para a entronização do que hoje é chamada de “teologia da prosperidade”, sobre a qual se assenta a maioria das pregações dos pastores pentecostais.

O fato é que denominações religiosas como a Igreja Universal, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus e Igreja do Evangelho Quadrangular, muito além de instituições religiosas, se transformaram, em tempo recorde, em potências empresariais que em nada ficam a dever a muitas empresas de diversos ramos da produção, comércio e serviços.

Os seus líderes religiosos – Edir Macedo, Estevam e Sonia Hernandes, RR Soares e Mario de Oliveira – demonstram um senso incomum para fazer crescer e multiplicar os seus negócios, principalmente no campo da mídia eletrônica e impressa, e não se preocupam em esconder os evidentes sinais de riqueza pessoal.

A fonte primária de toda esta riqueza está, sem dúvida, nos cultos promovidos por estas seitas, nos quais não faltam muita emoção, falsos milagres e, sobretudo, farta arrecadação dos recursos destinados à “obra do Senhor”, que, pelo que se conclui, tem se manifestado muito mais no bolso dos pastores do que na vida de suas ovelhas fiéis. A ousadia e a desfaçatez com que agem estes pretensos líderes espirituais já é voz corrente.

Alguns deles já estiveram, ou ainda estão, sob a mira da Justiça, sob acusações que vão desde abuso do poder econômico, lavagem de dinheiro e transferência ilegal de recursos para o exterior, e ,pasmem, até mesmo tentativa de assassinato, como é o caso do deputado Mario de Oliveira, o líder da Igreja do Evangelho Quadrangular.

No Brasil, em nome da separação entre a Igreja e o Estado, as instituições religiosas estão isentas de pagamento de impostos. Talvez esteja aí a razão mais forte para o tão rápido crescimento destas instituições e o motivo para que cometam tantos desvios de suas funções originais. Escondendo-se sob o manto protetor e insuspeito da religião, desenvolvem uma série de atividades lucrativas, algumas legais e muitas ilegais.E ainda livres da carga representada pelos impostos .É muitíssimo mais fácil abrir uma Igreja do que uma empresa qualquer. Mas tocar neste vespeiro é perigoso e contraproducente. Por quê?

Primeiro porque qualquer tentativa de disciplinar as atividades destas igrejas esbarra no preconceito de que se trataria de cerceamento da liberdade religiosa. Se por um lado temos o conhecimento de que a maioria dos líderes e pastores é movida por uma convicção nada cristã, por outro sabemos que a maioria do rebanho é movida por uma autêntica fé.

Segundo porque estas instituições ultrapassaram as fronteiras puramente religiosas, e até empresariais, e penetraram com muita força também no campo político.

Os evangélicos se fazem cada vez mais atuantes no cenário político, financiando campanhas, lançando candidatos, elegendo governantes e parlamentares, e controlando partidos políticos. O rebanho religioso que eles, com habilidade, manipulam nos templos, transformou numa significativa clientela eleitoral..Qualquer interferência nas atividades destas seitas passaria a ser considerada, além de uma atitude de perseguição religiosa, também uma perseguição política.

Portanto, para se atuar sobre estas instituições e sobre estes líderes religiosos é preciso que se tome o cuidado de que fique bem demarcado os dois campos em que eles têm atuado : o puramente religioso e o dos negócios e da política. Assim como é importante que se defenda com todas as armas a preservação da completa liberdade de religião, também é fundamental que se denuncie os desvios, os abusos e os crimes que em proveito desta liberdade, são praticados por estas instituições e por membros delas.

Se milhões de pessoas que se autodenominam “crentes” por diversas razões se deixam manipular em suas crenças, carências e até em sua ganância, por espertalhões movidos pelos piores propósitos, o problema é delas. Se estes charlatões fogem da finalidade original a que se propuseram estas organizações, e passam a cometer ilegalidades e crimes no campo econômico, político e pessoal, isto passa a ser um problema de toda a sociedade. E, por isto, devem ser exemplarmente punidos. Sem dó nem piedade.
http;//blogdofasoares.blogspot.com/

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