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domingo, 15 de janeiro de 2012

Vale a pena rezar pelos mortos se seu destino último já se realizou e se fixou?

Antes do mais, nossa resposta deverá comentar um pormenor da formulação da pergunta. Esta nos fala de "destino último". A palavra "destino" é um tanto ambígua. Sim, que significa "destino"? - "Destino" freqüentemente é entendido como uma força cega, neutra, que impele o homem numa determinada direção, em vista de uma meta precisa. Destino lembra facilmente fatalismo, o contrário do que o Cristianismo chama "graça de Deus" e "liberdade do homem". Devemos dizer que não existe destino, se o entendemos como força cega que empurra fatalmente o homem na sua caminhada terrestre. Deus nos concedeu a liberdade de arbítrio e a respeita; a própria graça de Deus não extingue a livre opção da criatura. Por isto, parece que seria melhor dizer na interrogação acima: "Vale a pena rezar pelos mortos, se já chegaram a seu último termo e nele se fixaram?"

Termo, no caso, seria a etapa final. Nossa vida, de fato, é uma caminhada ou peregrinação. Nela há várias fases com seus termos finais, e há o Grande Terno, o último, que é o encontro com Deus ao partirmos deste mundo.

Uma só vez pelas estradas desta vida

Passemos agora ao conteúdo mesmo da pergunta.

Muito acertadamente nosso correspondente supõe que a morte nos estabiliza em nossa opção final ou nos fixa no termo último da nossa existência. Diz o autor da epístola aos Hebreus: "Os homens devem morrer uma só vez. Depois do quê vem o julgamento" (Hb 9,27). Passamos uma só vez pelas estradas desta vida, com todas as graças de Deus para nos santificarmos; Ele nos acompanha carinhosamente até o último instante da nossa peregrinação. Contase até um caso muito interessante a propósito: certa vez, uma viúva foi procurar São João-Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars, e lhe disse que estava muito triste, porque o seu marido se suicidara, atirando-se da ponte para o fundo de um rio. Que lhe respondeu o Santo? "Minha senhora, entre a ponte e a água do rio, há um intervalo". Com isto, o Cura d'Ars queria lembrar à senhora que, mesmo depois de haver executado o suicídio, restou ao marido dela um pouco de tempo antes de morrer; e nesse pouco de tempo podia o suicida ter aceito a graça de Deus, que não lhe faltou para que se arrependesse. Por conseguinte, o cristão não se preocupa com a pretensa exigüidade de uma só passagem pela Terra para se converter. É uma passagem muito rica de graças desde o começo até o último instante. O Pai, que entregou por nós seu Filho pregado à Cruz, nos reservou todos os subsídios necessários para que não somente nos salvemos, mas para que nos santifiquemos durante nossos anos de vida na Terra.

Última purificação

Dito isto, acrescentemos o seguinte: as pessoas que morrem em estado de graça ou com o amor de Deus em seu coração, podem ainda estar marcadas por pequenas incoerências: podem amar a Deus sinceramente, mas cometer a fraqueza de responder mal ou indelicadamente ao irmão... Se alguém morre em tais condições, que acontece?

É certo que Deus não rejeitará quem diante dele comparece em estado de graça ou sem pecado grave; mas o fato de tal pessoa ainda levar pequenas faltas ou incoerências, impede que veja imediatamente Deus face a face. Essa pessoa tem que se purificar das chamadas "escórias do pecado"; tem que repudiar o apego ao chamado "pecadinho" (que nunca é desprezível); tem que fortalecer seu amor a Deus para que ele queime qualquer resquício de amor próprio ou amor desordenado ainda existente nessa alma. Ora, isto se faz no purgatório póstumo. É certo que deveríamos purificar-nos das escórias todas do pecado antes de morrer (esta vida terrestre é a fase normal de nossa purificação); mas, se isto não acontece no presente, terá que ser feito após a morte. Tal é a noção de purgatório, que, como vemos, é muito lógica; ninguém pode ver Deus face a face se ainda é portador da mínima sombra de pecado. Aliás, diz-se muito bem: a alma, logo depois da morte, ao reconhecer sua autêntica realidade, ela mesma deseja o purgatório ou deseja libertar-se das escórias do pecado.

No purgatório não há fogo nem trevas, mas há o arrependimento profundo provocado pelo amor de Deus, que suscita o repúdio radical a todo tipo de leviandade ou contradição.

Agora coloca-se, bem a propósito, a pergunta: por que então rezar pelas almas do purgatório, se a sua sorte póstuma já está definida? - Eis a resposta: não pedimos que essas almas mudem de opção, não pedimos que aqueles que morreram avessos a Deus se convertam depois da morte (isto seria impossível), mas pedimos que aqueles que morreram no amor de Deus ainda imperfeito, acabem de se purificar dos resquícios do pecado. Pedimos que o amor a Deus, ainda fraco ou tíbio, se fortaleça para eliminar qualquer desordem existente na alma. Tal é o sentido da nossa oração pelos defuntos; supomos que precisem dessa nossa ajuda. Aliás, Deus, que nos fez solidários entre nós na vida presente, não permite que a morte interrompa essa solidariedade. Ele quer que rezemos pelos nossos irmãos falecidos como nós rezamos pelas pessoas vivas na Terra. Só Deus sabe qual a sorte póstuma dos defuntos; se determinada alma já não precisa de orações, o Pai faz que nossas preces beneficiem outras almas.

O melhor modo de sufragar as almas do purgatório é a celebração da Santa Missa. Esta é a perpetuação do sacrifício de Cristo ou a reapresentação da oferta do Calvário, que Cristo nos deixou para que com Ele possamos oferecer ao Pai nossa vida e nossas intenções, obtendo, assim, as graças de que necessitamos ou de que necessitam nossos irmãos.

A Bíblia fala de oração pelos mortos

Se alguém perguntasse qual o fundamento bíblico do purgatório, responderíamos que a existência do purgatório póstumo já era reconhecida pelos judeus do Antigo Testamento, como atesta 2Mc 12,38-45: neste texto narra-se que Judas Macabeu verificou que alguns soldados israelitas haviam morrido em batalha para defender as suas tradições religiosas; por incoerência, porém, haviam guardado debaixo de suas vestes, estatuetas pagãs. Isto quer dizer que haviam sido fiéis ao seu patrimônio religioso javista, mas tinham cometido uma incoerência (incoerência que não anulou a sua adesão incondicional a Deus). Judas Macabeu mandou então fazer uma coleta para enviá-la a Jerusalém, a fim de que se oferecesse um sacrifício por esses falecidos; eles teriam a recompensa eterna, mas ainda deveriam expiar os resquícios de pecado com que haviam morrido, e os seus irmãos na Terra pediam a Deus que lhes fortalecesse o amor para que, quanto antes, se livrassem de qualquer sombra de pecado.

No Novo Testamento encontramos uma alusão indireta ao purgatório póstumo em l Cor 3,10-15.

Em conclusão: vivamos de tal modo que nos libertemos de qualquer incoerência ou contradição; procuremos amar a Deus em tudo e acima de tudo. Assim estaremos fazendo o nosso purgatório na Terra, como é normal.

(D. Estevão Bettencourt, osb)

FONTE ELETRÔNICA;



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